Folha de S. Paulo


Elite preconceituosa?

SÃO PAULO - Em campanha, escolha a narrativa que mais lhe convém e molde os fatos de forma que se ajustem nela. Esse mantra, que já era usado por políticos e marqueteiros há muito tempo, vai ganhando apoio de pesquisadores que estudam a psicologia do voto, como Drew Westen e George Lakoff.

Para eles, se há algo que já ficou claro, é que essas narrativas, que buscam envolver os sentimentos positivos do eleitor com o político (e os negativos com o adversário), importam mais para a decisão do voto do que programas, propostas e outros itens que poderíamos definir como a pauta racional da candidatura.

Lula acaba de dar um belo exemplo desse esquema ao afirmar que o PT é vítima de uma campanha de preconceito e ódio promovida pela elite. Tenta, com isso, mobilizar um sentimento de empatia para com a presidente Dilma Rousseff, que foi xingada no jogo de abertura da Copa, e responder a um discurso um pouco mais incisivo de Aécio Neves, que falou em "varrer" o PT do poder.

Obviamente, os fatos precisam ser adaptados para caber na narrativa lulista. Segundo o Datafolha, em março de 2013, a gestão Dilma, então no pico de sua popularidade, contava com 67% de aprovação da "elite" (grupo com renda familiar maior que dez salários mínimos), contra 65% da população geral. É um quadro pouco compatível com a ideia de uma elite intolerante que move uma campanha cega de ódio contra o PT. Mais fácil acreditar que as pessoas atualizaram suas avaliações à luz de resultados percebidos, não de preconceitos.

Uma implicação das pesquisas sobre a psicologia do voto que eu considero libertadora é a constatação de que o militante de fato percebe o mundo de forma menos objetiva. Se isso cria dificuldades para os fatos também permite concluir que as narrativas capengas não são necessariamente manifestação de mau-caratismo de quem as enuncia. O mundo se torna um lugar menos sombrio.


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