Folha de S. Paulo


Quando eleições atrapalham

SÃO PAULO - A democracia é ótima. Reconhecê-lo, porém, não implica deixar de observar que ela tem uma série de problemas. E um dos mais graves deles são as eleições.

Obviamente, não pode haver democracia sem pleitos livres e periódicos, mas, infelizmente, eles introduzem um poderoso viés no sistema. De modo geral, políticos só exercem o poder quando têm um mandato e, a fim de obtê-lo, fazem mais ou menos de tudo, mesmo que isso contrarie as boas práticas administrativas.

Vemos isso acontecendo em todos os níveis no Brasil agora. O governador Geraldo Alckmin, cujo partido comanda o Executivo paulista há duas décadas e é inapelavelmente responsável pela falta de investimentos no sistema de abastecimento de água, faz o que pode (e talvez o que não possa) para evitar o racionamento, que tende a ter consequências eleitoralmente desastrosas. O problema é que, ao postergar a adoção de medidas mais fortes que possivelmente se revelarão inevitáveis, dá sua contribuição para torná-las mais severas e menos efetivas.

Já o governo federal, para não maltratar o eleitor com mais inflação nem escancarar os muitos erros de sua política econômica, segura reajustes de preços importantes, como combustíveis e energia elétrica. Um tarifaço em 2015 já é inevitável.

Nada disso é muito novo. Platão, no século 4º a.C., já alertava para os perigos do populismo e mostrou como a democracia era vulnerável a eles. O que há de novo é que hoje não existe mais muita dúvida de que todos os sistemas políticos que concorreram com a democracia são piores do que ela, o que praticamente nos força a cultivá-la com cuidado.

Num número do mês passado dedicado ao que descreve como crise na democracia, o semanário britânico "The Economist" traz várias sugestões interessantes. Paradoxalmente, algumas delas passam por reduzir o poder que o Estado tem de fazer agrados aos eleitores.


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