Folha de S. Paulo


Cobertor curto

SÃO PAULO - Um dos poucos consensos do pessoal da saúde é o de que o setor é subfinanciado. Será? Não pretendo ir contra essa rara unanimidade, mas acho importante discutir seus vários aspectos e relativizá-la ao menos um pouquinho.

A ideia de que a saúde recebe menos investimentos do que deveria se sobressai quando analisamos os gastos per capita na área. Uso aqui os indicadores de 2011 do Banco Mundial, que consideram os dispêndios públicos e privados. Nessa rubrica, o Brasil coloca US$ 1.121 por pessoa por ano. É bem menos do que os US$ 3.609 do Reino Unido ou os mais de US$ 8.000 da Noruega ou de Luxemburgo, mas não discrepa tanto do que gastam países mais parecidos com o Brasil, como Chile (US$ 1.075), Uruguai (US$ 1.105) ou República Tcheca (US$ 1.507).

O panorama muda um pouco quando usamos como métrica a proporção do PIB destinada ao setor. No caso do Brasil, são 8,9%, aquém de Reino Unido (9,3%) e Noruega (9,1%), mas acima de Luxemburgo (7,7%), Uruguai (8%), Chile (7,5%) e República Tcheca (7,4%).

Já aí temos indicação de que o problema do Brasil é ter muita gente e pouca renda, mas a situação fica pior quando se considera o balanço entre gastos públicos e privados. Aqui, o setor público, que atende a 75% da população, fica com 46% do total de verbas, enquanto os 25% restantes dispõem de 54% dos recursos.

Por motivos reais ou imaginários, pessoas um pouco mais ricas querem ter seu plano de saúde. Então, para aumentar a proporção do gasto público, é preciso criar novas fontes de recursos (mais impostos ou planos mais caros para compensar o ressarcimento ao SUS) ou tirar de outras áreas, como educação, segurança, etc. Em qualquer hipótese, isso levaria o Brasil a alocar no setor fatia do PIB só comparável à das social-democracias europeias. Com nossos níveis de renda, não há como pôr muito mais dinheiro na saúde.


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