Folha de S. Paulo


Novela exemplar

SÃO PAULO - Essa novela em torno da Petrobras é exemplar porque escancara os vários níveis em que o governo vem metendo os pés pelas mãos. Hoje, eu não hesitaria em classificar a administração Dilma Rousseff como muito ruim.

Na camada mais superficial, a direção da empresa petrolífera (que é basicamente escolhida pelo governo) fez um péssimo negócio ao adquirir, em 2006, a refinaria em Pasadena, sob as cláusulas draconianas daquele contrato. Até aí –e supondo que não haja nenhuma negociata na história–, teríamos apenas um erro, algo indesejável, mas que faz parte da vida. Mesmo as melhores gestões de vez em quando erram.

A situação vai ficando mais complicada para a atual ocupante do Planalto quando ampliamos o leque da análise, de modo a abarcar a interface entre as estatais e a macroeconomia. É neste ponto que parece faltar ao governo até aquela coerência interna que alguns chamam de lógica.

Poderíamos debater até o fim dos tempos se é papel do Estado atuar na economia através de empresas estatais. Mesmo que eu não goste muito disso, Dilma e o PT defendem o Estado gestor e essa proposta foi legitimamente aprovada nas urnas.

Outro assunto controverso é a ideia, defendida por alguns economistas desenvolvimentistas, de que a inflação não é tão perigosa assim. Valeria a pena, para melhorar as perspectivas de crescimento, tolerar um pouquinho mais de inflação. Essa também parece ser uma tese desposada pela atual gestão, ainda que não o admita abertamente.

O problema surge quando você junta tudo. Se o Planalto quer estatais fortes, não faz sentido obrigar a Petrobras a vender combustível abaixo de seu preço de custo. A incoerência se torna loucura quando se considera que o governo vem praticando uma política que quase mata a petroleira para segurar na unha os índices de inflação –algo que nunca foi uma prioridade desta gestão.


Endereço da página: