Folha de S. Paulo


Garfando a Portuguesa

SÃO PAULO - É ridículo o que estão querendo fazer com a Portuguesa. Sim, é verdade que o escrete luso escalou irregularmente um jogador e que, para tal delito, o regulamento prevê a perda do ponto ganho na partida mais uma "multa" de três pontos. Se a pena for aplicada, o time será rebaixado, livrando o Fluminense dessa incômoda situação.

A questão, então, é decidir se devemos ou não aplicar o regulamento. Aqui, ao contrário de quase tudo o que li sobre o assunto, penso que a melhor resposta é um "não". Para começar, a escalação do atleta se deu por erro e não por má-fé, já que a partida "sub judice" não valia nada e o jogador atuou por poucos minutos.

Se a Portuguesa perder os pontos, os cartolas estarão afirmando que o que acontece nos tribunais desportivos é mais importante do que o que ocorre dentro do campo, mensagem que não combina muito com a ideia de esporte. Outros times já estão em busca de partidas em que teriam ocorrido irregularidades para delas extrair a golpes de petição uma melhor colocação no campeonato.

Na verdade, para defender que a Lusa deva ser rebaixada é preciso recorrer a um formalismo jurídico rigoroso que, se já é difícil de sustentar no direito comum, torna-se risível no futebol. É óbvio que normas são importantes. Mas não se pode esquecer que elas são um meio para promover a paz social e outros objetivos relevantes, não um fim em si mesmo.

O problema de fundo é que o legalismo estrito é uma posição inconsistente. Não dá para aplicar todas as regras a todos o tempo todo. Fazê-lo transformaria nossas vidas num inferno.

Normas que assumem a forma de comandos legais não dão conta das complexidades do mundo real. Em qualquer caso, futebolístico ou jurídico, para chegar a uma solução que a maioria das pessoas classificaria como justa é preciso fazer referência a um conjunto de regras não escritas que chamamos de bom senso. Sem ele nenhum sistema para em pé.


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