Folha de S. Paulo


O fim do vilão carro?

Dando aulas na Universität der Künste, em Berlim, na última semana, percebi que meus amigos locais passaram a dirigir mais. O transporte público e a bicicleta ainda são seus principais meios de locomoção, mas eles voltaram a fazer as pazes com o carro.

Popularizando-se rapidamente pela Europa, o carro compartilhado parece apontar para um futuro possível e mais sustentável para o automóvel. O arquiteto e urbanista Max Schwitalla, pesquisador dos rumos do transporte, me levou para testar o serviço.

Nosso ponto de partida foi o bairro de Mitte, próximo a seu estúdio. Com celular na mão, usamos o aplicativo "DriveNow", da BMW, que nos mostra o mapa do bairro e quais carros estão próximos.

Escolhemos o modelo (Mini? Conversível? Elétrico? Van?), verificamos detalhes, como as condições de limpeza e a quantidade de gasolina no tanque (deixados de "feedback" pelo último usuário), e o reservamos. Levamos dois minutos caminhando até o veículo, estacionado na rua como um carro comum.

Com um cartão de cadastro, abrimos as portas e pronto, rumamos ao bairro de Kreuzberg para tomar uma cerveja. Chegando ao destino, bastou achar uma vaga qualquer na rua e deixar o nosso "feedback".

A viagem levou 19 minutos, custou € 5,50 (cerca de R$ 19), a metade do valor de um táxi para o mesmo trajeto. Para ficar com o carro por 24 horas, o gasto seria de € 40 (cerca de R$ 138).

Simples assim: pegue o carro mais próximo e o deixe onde quiser, sem custos com combustível, taxas municipais, IPVA ou seguro. Max me explica que um carro compartilhado substitui mais de dez carros privados na rua e que o objetivo agora é garantir que em um futuro próximo todos eles sejam elétricos.

Uma vez palestrei numa das maiores montadoras de carros do Brasil e fiquei decepcionado quando percebi que, ao se discutir o futuro naquele seminário, a conversa se concentrava na tecnologia do veículo, não no homem e na cidade.

Na Alemanha, a indústria automobilística já percebeu o altíssimo potencial de investir em serviços urbanos e entendeu que o futuro será cada vez mais sobre o compartilhar.


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