Folha de S. Paulo


Artesanato digital em Dubai

Fui convidado para expor e palestrar na terceira edição da Design Days Dubai, feira de design do Oriente Médio, nos Emirados Árabes Unidos. Durante seis dias, cerca de 30 galerias de diferentes países apresentaram produtos de novos, ou já consagrados, criadores e promovem debates e workshops.

A Galeria Carwan, de Beirute, com três anos de existência, tem se destacado ao convidar grandes nomes, como o libanês Bernard Khoury, o grego Michael Anastassiades e o canadense Philippe Malouin, para trabalhar com artesãos locais.

O resultado é a união do tradicional artesanato libanês com o desenho contemporâneo desses designers renomados, como nas mesas "Landscapes", de India Mahdavi, feitas com azulejos coloridos e acabamento em chapa de cobre.

A galeria paulistana Coletivo Amor de Madre, única representante da América Latina, ocupou um dos maiores espaços do evento e promoveu duas performances diárias –uma delas realizada pelos chilenos do gt2P (Great Things to People).

Eles construíram uma espécie de impressora de cerâmica totalmente analógica, em que um tecido tencionado, com ajuste feito por réguas de precisão milimétrica, permite a confecção de vasos.

Após secarem e serem retirados dessa máquina, os vasos parecem ter sido criados pelo computador. Uma obra cheia de ironia, que questiona se o novo universo paramétrico (feito pelo computador) não nos leva ao retorno do artesanal.

Já a designer Zeinab Alhashemi encarna a figura da jovem local, que une as tradições da rica cultura árabe com a geração da internet. De visual "burca punk" e cabeça parcialmente raspada, ela me conta, entusiasmada, como faz suas peças com artesãos dos Emirados, usando couro de camelo para criar tapetes lapidados em triângulos, com uma estética absolutamente digital.

Dubai se impõe como peça fundamental na troca entre diferentes culturas e a internacionalização da profissão do designer no Oriente Médio. E a cidade se mostra aberta à experimentação, com produtos que se destacam pelo processo e pela história que carregam. Daqui me parece que, de fato, o digital nunca esteve tão analógico.


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