Folha de S. Paulo


O design da favela e da periferia

No Brasil, o design ainda é associado a artigos de luxo, caros e meramente decorativos, numa ideia de que "design é coisa para gente rica".

Em meu programa para a TV, muitas vezes pedi aos entrevistados uma definição de design. Uma das melhores respostas foi do Gean Carlo Latorraca, arquiteto e diretor técnico do Museu da Casa Brasileira: "Design é solução de problemas".

Eu acredito que o bom design é feito de maneira criativa e inovadora, para amparar atividades (comer, trabalhar, dormir, vestir-se) de modo funcional e belo, considerando o mínimo impacto ambiental e promovendo, sempre que possível, a cultura e a produção locais.

Na semana passada, fui visitar a exposição "Design da Periferia", no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no parque Ibirapuera. Saí emocionado, com a certeza de ter visitado uma das melhores exposições de design que já fui até hoje.

A mostra traz, de maneira não romantizada (para gringo achar bonito), produtos feitos por pessoas comuns, pensados para resolver problemas do dia a dia e, em sua maioria, com pouco dinheiro, reutilizando resíduos sólidos e lixo.

Objetos, fotografias e vídeos mostram o design em seu princípio fundamental --o de solucionar problemas de maneira funcional, bela e sustentável--, longe do estabelecido, do status quo, como descrito pela curadora Adélia Borges. Ela buscou durante anos, em favelas e periferias de todo Brasil, o material apresentado na mostra.

Carrinhos coloridos de vendedores de café e máquinas de fazer sorvete da Bahia, bancos de madeira do Amapá, churrasqueiras de aro de pneu de Alagoas, folders de baladas da periferia de São Paulo e tipografia nos barcos da Amazônia integram essa coleção inspiradora. Acima de tudo, a mostra fala sobre brasilidade (não óbvia), comportamento, identidade, improviso, design honesto e, como relata Adélia, "a sabedoria criativa do povo brasileiro".

São peças feitas fora do ambiente acadêmico e profissional que revelam que design é, mais do que um produto, uma forma de pensar, e que está sim, cada vez mais ao alcance de todos.


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