Folha de S. Paulo


Emergência, terror e guerra

BRASÍLIA - O presidente da França, François Hollande, declarou nesta semana que seu país vive um estado de "emergência econômica", em referência à taxa de desemprego, que ultrapassou a casa dos 10%. O socialista, a perigo nas eleições do próximo ano, lançou um plano de estímulo às contratações.

Na Venezuela, Nicolás Maduro formalizou em decreto a tal emergência dita da boca para fora por Hollande. O texto bolivariano dispensa o governo de licitações, derruba restrições para a importação de alimentos em falta nas prateleiras do comércio e chega ao ponto de permitir a intervenção do Estado em empresas para garantir o abastecimento de gêneros de primeira necessidade.

A inflação venezuelana passa dos 100% anuais, a despeito da recessão profunda. O ministro da Economia é o sociólogo Luis Salas, para quem "a inflação não existe na vida real" –a alta dos preços seria uma arma usada por capitalistas em uma "guerra econômica" contra o governo.

No Brasil, o ex-ministro Guido Mantega cunhou o termo "guerra cambial" para descrever as desvalorizações das moedas dos países desenvolvidos, que reagiam ao impacto da crise internacional. Tal leitura dos acontecimentos justificou políticas para enfraquecer o real e assim impulsionar exportações.

Na época subordinado a Mantega, o hoje titular da Fazenda, Nelson Barbosa, denunciava "terrorismo fiscal" nas primeiras reações negativas ao afrouxamento do controle dos gastos públicos destinado a inflar o consumo e o investimento.

Com as contas a caminho do vermelho, economia parada e preços em alta, Dilma Rousseff, na TV, chamou de "guerra psicológica" a desconfiança manifestada por "alguns setores" nos rumos do Brasil.

Governos de esquerda deveriam nomear diplomatas para negociar um acordo de paz com os mercados. Afinal, até Estados Unidos e Irã conseguiram se entender.


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