Reza a lenda que na copa de 58, o técnico Feola bolou um esquema infalível contra a seleção soviética. Nilton Santos lançaria a bola pela esquerda para Garrincha, que driblaria 3 russos e cruzaria para Mazzola marcar de cabeça. Garrincha ouviu o professor atentamente. : "tá legal, seu Feola, mas o senhor combinou com os russos?".
"Primeiro a gente tira a Dilma, dizia o pessoal do impeachment. Depois a gente derruba o Temer. Aí a gente prende o Cunha. Quando ele cair a gente cassa o Renan. Daí pronto: eleições gerais." O plano era infalível. Só esqueceram de combinar com os russos.
No poder, o presidente interino (não pronunciarei mais seu nome) já mostrou que não tem a menor intenção de renunciar - apesar de ter assinado as mesmas pedaladas que derrubaram Dilma. Parabens pra todos os que produziram o efeito dominó mais curto do mundo: parou na primeira peça. Os russos roubaram a bola antes dela chegar no ataque e fizeram sete gols. O secretario de segurança genocida foi premiado com a Justiça. Um pastor da Igreja Universal ganhou o Desenvolvimento. A educação ficou com o PFL (me recuso a chama-los de democratas). A Cultura foi pro mesmo lugar que a democracia: debaixo da terra. Ou do PFL. O que é pior. Acabou com a CGU - fechou a torneira da lava-jato.
Achei que aqueles que eram contra a corrupção iriam às ruas contra o primeiro presidente brasileira que já assume com a ficha suja. Não foram. Achei que fossem contra a indicação de ministros citados na lava-jato. Tampouco foram. O pato da Fiesp acordou rouco. As panelas voltaram à cozinha. Durante o discurso do vampiro embalsamado que nos governa, tudo o que se ouvia era um silencio ensurdecedor.
Cheguei a ouvir: "ao menos esse presidente fala bem portugues". A vontade é enorme de gostar do mordomo interino. Pode roubar, matar, e esconder cadáver, mas pelo menos não erra o plural.
Não se esqueçam do Lacerda, que fez o que pôde pro governo de Jango cair. Quando o golpe chegou, foi um dos primeiros a ter os direitos politicos cassados. Tentou reclamar - era tarde demais. "Mas não era isso que você queria?" - poderiam argumentar os militares.
O golpe chegou. Vale lembrar de Lacerda. Quem pediu o golpe não estará imune a ele. É o momento de deixar claro que não era isso que vocês queriam. Com esse silencio todo, fica parecendo que era.