Folha de S. Paulo


Cidade Olímpica

Eduardo Paes bate à porta de uma casa popular na vila autódromo.

PAES - Bom dia, pobre.

LURDES - O que é que tá acontecendo?

PAES - Eu é que te pergunto. A senhora tá no meio da nossa piscina.

LURDES - Perdão?

PAES - Sua casa. Está. Mergulhada. No meu. Parque. Aquático.

LURDES - Eu não to vendo parque aquático.

PAES - É porque te falta visão. O mundo inteiro já tá vendo. Só falta a senhora, filha.

LURDES - Isso aqui é minha casa.

PAES - No meio de uma piscina? Acho que não.

LURDES - Por que vocês não vão fazer em outro lugar?

PAES - Vamos supor que você tenha uma piscina. No meio da piscina tem uma casca de banana. Você faz outra piscina porque naquela "já tem uma casca de banana" ou você tira a porra da casca de banana?

LURDES - Eu sou a casca de banana?

PAES - Não. Sou eu. A lôka. É você, mesmo.

LURDES - O que você quer que eu faça?

PAES - Você pode ficar aí, mas já pensou que chato levar uma cotovelada do Michael Phelps? Uma joelhada do Cielo? Isso sem falar nos problemas que você vai ter com infiltração. E mofo.

LURDES - Você vai construir a piscina mesmo se eu não quiser sair daqui?

PAES - Não. Eu também posso cancelar a maior festa popular do planeta. Ah. Peraí. Não posso, não. A lôka.

LURDES - Mas qual a outra opção?

PAES - Se mudar pra um bairro seco, sem piscina olímpica, longe do lugar em que vai ocorrer a maior festa popular do planeta.

LURDES - Não posso, minha família tá toda aqui.

PAES - Família?

Ela olha em volta. Não sobrou nenhuma casa.

PAES - Só sobrou você.

LURDES - Onde é que tá a minha família?

PAES - Maricá.

LURDES - Como é que eu vou?

PAES - Vai de ônibus, ué. Ih, não. Melhor não.

LURDES - Por que?

PAES - Cortei essa linha. A lôka.

LURDES - Aí fica difícil.

PAES - Pensa que você e sua família vão poder assistir às competições no parque aquático onde um dia foi sua casa.

LURDES - A gente vai ganhar ingresso?

PAES - Não. Mas vai passar na "Globo".


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