Folha de S. Paulo


Hipster de bloco

Esse bloco já foi bom. Isso era antes do pessoal começar a chegar. A playboyzada estragou esse bloco. Os coxinhas arruinaram o carnaval.

Não, eu não sou hipster. Eu era hispter, antes de todo o mundo virar hipster. Hoje em dia ser hipster é coisa de coxinha.

Igual esse bloco aqui. Eu gostava antes de virar modinha. Só vinha o pessoal do bairro, mesmo. Aí saiu no jornal. Hoje em dia descaracterizou. Não, eu nunca fui do bairro.

Mas é diferente. Eu, pelo menos, sou do Rio. Nascido e criado. Esse pessoal vem de Goiás. Isso é que descaracteriza: quando vem gente de outro Estado. Aí é que vira micareta.

Antigamente era família, tinha muita criança. O objetivo era se divertir. Não, eu sempre vim com o objetivo de pegar mulher. Mas eu era uma exceção. Essa é que era a graça.

Hoje em dia descaracterizou: todo o mundo vem com o objetivo de pegar mulher. Isso é que não pode. Assim eu sou só mais um cara com o objetivo de pegar mulher. E a mulher que é bom já não vem mais.

Mulher não gosta de lugar em que tá todo mundo a fim de pegar ela. Vai entender. Mulher gosta de acreditar que as pessoas têm outro objetivo na vida. Outro dia vi uma mulher linda de costas. Cheguei junto e era um goiano.

Por isso é que eu prefiro festa junina. A festa junina é o novo Carnaval. Se bem que tá começando a ficar mainstream demais. Acho que este ano vai descaracterizar. Vou ter que voltar a frequentar o Carnaval.

Ano que vem o Carnaval vai estar tão descaracterizado que eu to achando que vai dar a volta. E vai recaracterizar.


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