Folha de S. Paulo


Lugar de corrupto é mesmo na cadeia?

Vou ficar quase sozinho (ou sozinho) e apanhando ao lançar, neste momento, uma a questão nesta coluna: a melhor forma de punir os corruptos é jogá-los na cadeia?

Estamos numa euforia legítima (e da qual compartilho) com a punição da quadrilha do mensalão, num sinal de que o país amadurecido já não suporta tanta roubalheira e impunidade. O que estamos vendo é um marco. A cadeia serve como exemplo para toda uma nação.

Mas deveríamos pensar se essa é a forma mais efetiva de punir os corruptos. Ou pessoas que não oferecem risco de vida à sociedade, ricos ou pobres.

Claro que a lei deve ser igual para todos, poderosos ou não --portanto, o lugar deles é na cadeia.

Mas será que colocar na cadeia pessoas que não oferecem risco de vida é a melhor solução? Não creio.

Venho há muito tempo defendendo essa posição não para os ricos, mas especialmente para os pobres --esses que são enjaulados, mesmo arbitrariamente, e que não chamam a atenção.

Poderiam, em muito casos, cumprir penas em liberdade, sem lotar as já superlotadas cadeias.

Acompanhei muitos casos de jovens que, por causa de um simples furto (isso mesmo, um simples furto) acabam enjaulados sofrendo os mais diversos tipos de sofrimentos.

Há muitas outras formas de punir: perda de uma série de direitos, forçar a devolução do dinheiro, trabalho comunitário. Estamos preparados para isso? Ainda não. Mas é o caminho que deveria ser seguido.

Raramente cadeia recupera. O sujeito sai de lá pior do que entrou. Pior e mais perigoso.

O que me adianta pagar para um indivíduo sair pior e mais perigoso do que entrou?

Vejam o caso da Suécia que, por trabalhar métodos alternativos, está derrubando cadeia por falta de gente para ficar presa.

Neste momento, a sociedade brasileira, cansada de impunidade e insegurança, não está preparada para essa debate. Até porque muita gente pensa que justiça é para fazer vingança. E não são poucos os que se comportam como linchadores.

Mas um dia vai ficar.


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