Folha de S. Paulo


Governo acalma as ruas, mas cria armadilha

A decisão de redução do reajuste das tarifas de ônibus, metrô e trens significou uma solução de curto prazo. Afinal, pode reduzir o ímpeto dos manifestantes, mas traz uma armadilha: dificuldades a médio e longo prazos.

Isso porque, a partir de agora, está sacramentada a ideia de que a mobilização popular paralisando a cidade é capaz de acuar as autoridades, que vão ficar cada vez mais temerosas, principalmente em períodos eleitorais, de mexer nas tarifas. Tanto o governo municipal quanto estadual têm a tarefa de apontar de onde vai sair o dinheiro, já que os subsídios ao transporte vão aumentar consideravelmente. Além disso, serão criadas novas áreas de conflito, já que cortes orçamentários e eventuais aumentos de impostos tendem a criar novas áreas de tensão. Não há dúvida de que tanto o governador Alckmin quanto o prefeito Haddad souberam reagir rapidamente ao clamor das ruas, e evitaram um potencial explosivo das manifestações que poderia sair de controle, levando, inclusive, a consequências de nível federal.

Nesse momento, eles podem até comemorar ter acalmado os manifestantes, mas deram mais poder a esses grupos, que se viram fortalecidos para novos protestos e reivindicações, levando em conta uma série de pautas latentes da sociedade.

O que estava em jogo nas manifestações não era apenas a tarifa dos transportes --estava em jogo toda uma demanda por melhor qualidade dos serviços públicos, das mais variadas áreas da educação à saúde. A tarifa de ônibus era apenas um elemento aglutinador de todas essas insatisfações. O resultado de toda essa história é que as ruas ganharam mais força e os governos terão de ser cada vez mais transparentes em relação à forma como usam o dinheiro público.


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