Folha de S. Paulo


Fui uma vítima da Virada Cultural

Escrevi ontem aqui que a Virada Cultural mostra a São Paulo dos meus sonhos: uma cidade ocupada por pedestres, onde as ruas sejam espaço de convivência e criatividade.

Para não perder a conexão com a realidade, fui uma das vítimas de um arrastão: voltei para casa sem meu celular.

Piorando a situação, levaram meu aparelho enquanto eu caminhava no Largo do Arouche (o palco brega) ao som de Luiz Caldas. A tristeza diante da perda do celular era agravada pela terrível sonoplastia.

Seria tolice imaginar que, por causa da Virada Cultural, a cidade se convertesse num ilha de paz de civilidade --e toda uma multidão aglomerada se comportasse sem nenhuma transgressão.

A regra da cidade em que vivemos é a marginalidade e a violência. Por isso, vivemos trancados, pretensamente protegidos por muros e cercas elétricas

Está aí exatamente o nosso maior desafio: ocupar as ruas, com todos o seus riscos, para que não sejam o território do medo. Trazer multidões para as ruas é um misto de ousadia e ato de simbólico de resistência contra a barbárie.

Não podemos ficar reféns do medo. Precisamos exigir não só cada vez mais segurança,.

Mas sobretudo mais educação e cultura - aqui está a verdadeira segurança nas ruas.

Perdi o celular. Mas como confio no poder da educação, não perdi a esperança.


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