Folha de S. Paulo


A "bolsa crack" é um desperdício?

Depois de uma série de insucessos (previsíveis, diga-se) no combate ao crack, o governo Alckmin lança um projeto de internação aos dependentes, oferecendo uma quantia às famílias no valor de R$ 1,3 mil mensais.

Já consigo ver os batalhões de tolos classificando a chamada bolsa crack de desperdício de dinheiro, fazendo comparações com o salário de um trabalhador.

A medida não é suficiente --mas está certa. E é caro mesmo. Veja quanto uma família de classe média gasta para tratar, numa clínica particular, um dependente de drogas ou álcool.

O que se criticava (e com razão) é que o sistema público não oferecia leitos suficientes para os dependentes. Se vai oferecer agora, não sei. Mas o fato é que, com esse valor, pode-se credenciar uma rede de instituições privadas.

Ilusão imaginar que só com polícia e assistência social iríamos enfrentar o crack.

É um trabalho que envolve a família, a escola, a comunidade. E, para ter algum efeito, psiquiatras, medicando remédios. No meio disso, terapia e um esforço de socialização das vítimas das drogas.

Mesmo assim o que podemos fazer, na maioria dos casos, é reduzir os danos.

Como sempre digo aqui: problemas complexos exigem soluções complexas e caras.

O resto são saídas simplórias, como imaginar que a redução da maioridade penal vai nos deixar mais seguros.

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Por falar em redução de danos, vale lembrar uma experiência da Universidade Federal de São Paulo. Fez com que os dependentes trocassem o crack pela maconha --e obteve bons resultados.


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