Folha de S. Paulo


Saudades dos camisas 7 e 11

Com a evolução tática do futebol, infelizmente, não há mais espaço para os pontas autênticos. Quando falo de pontas, não quero dizer dos meias que atuam pelos lados do campo ou dos laterais que se lançam ao ataque constantemente.

Falo dos extremas, que usualmente vestiam as camisas 7 (o da direita) e 11 (o da esquerda), que só jogavam pelas beiradas do campo, pouco se deslocavam, ficavam esperando a bola no campo de ataque e nem sonhavam em marcar os laterais do adversário - até porque os laterais não avançavam, já que tinham que tentar marcar os pontas.

Aliás, o duelo entre laterais e pontas era uma atração extra da partida. Havia o duelo de Garrincha e um "João" qualquer -- dizia-se que era assim que o craque chamava seus marcadores --, sempre vencido pelo gênio das pernas tortas. Havia também, em São Paulo, o embate entre o ponta-esquerda Pepe, do Santos, e o Djalma Santos, lateral que brilhou na Portuguesa e no Palmeiras. Cronistas mais antigos contam que, logo no início das partidas, o defensor tentava aplicar um "chapéu" no camisa 11 do Santos, na tentativa de intimidar o atacante.

Não é nenhum exagero dizer que o duelo entre os pontas e os laterais, em muitas oportunidades, parecia um número de dança. Com os pontas aplicando várias fintas nos laterais, e esses, sempre na iminência de tomar um drible desconcertante, tentando achar o momento certo de tocar na bola e desarmar o adversário --também não eram poucos os laterais que apelavam para as faltas para segurar os ponteiros.

É bom lembrar que os pontas eram divididos em dois grupos: os habilidosos e os velocistas. No primeiro grupo estavam aqueles que partiam com a bola para cima do lateral e tinham uma habilidade incrível para realizar um drible em um espaço reduzido. Era impossível para o defensor saber qual o drible que esse tipo de ponta iria tentar, pois eles tinham um repertório quase infinito de fintas.

Já os velocistas tinham nas arrancadas sua arma mais poderosa. Eles saíam em disparada e, invariavelmente, ganhavam dos laterais na corrida, chegando à linha de fundo para fazer o cruzamento. Esse tipo de ponteiro dependia muito de armadores que sabiam fazer lançamentos longos para ter sucesso. Pode ser apenas coincidência, mas os grandes lançadores do nosso futebol acabaram ao mesmo tempo em que desapareceram os ponteiros velocistas.

Os centroavantes faziam a festa --entende-se aí muitos gols- quando existiam os pontas. Eles sabiam que em quase todos os ataques receberiam passes desses jogadores que atuavam pelos lados do campo. O centroavante inteligente sabia que, dependendo da característica do ponta, variava o tipo de cruzamento.

Quando o passe saía de um extrema habilidoso, ele vinha pelo alto, com a bola fazendo uma curva, evitando que o goleiro pudesse cortar o lançamento. Já quando o passe - na época em que existiam os pontas o termo assistência não era utilizado- era feito pelo extrema velocista, geralmente ele vinha forte e rasteiro.

Como já disse no começo do texto, atualmente é impossível alguma equipe jogar com um ponta clássico, mas, mesmo assim, o caminho mais curto para chegar ao gol ainda é pelas laterais do campo.

Até a próxima!
Mais pitacos em: @humbertoperon

DESTAQUE
Para o Cruzeiro, que pode conquistar o Campeonato Brasileiro no próximo domingo, na partida contra o Grêmio. Um título absolutamente justo, para um time que dominou inteiramente o torneio e, se derrotar o time gaúcho, vai conseguir a proeza inédita de vencer todos os outros times da competição.

ERA PARA SER DESTAQUE
Virou rotina. Agora, todos os finais de semana temos a notícia de que um ônibus com a delegação de um clube foi atacado quando se aproximava do estádio. Já passou da hora de aumentar o esquema de segurança para os ônibus nas cercanias dos estádios e que haja punição aos agressores - e também ao clube mandante. Também é preciso dizer que esse tipo de pressão não exerce mais nenhuma influência no comportamento da equipe visitante dentro de campo.


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