Folha de S. Paulo


Mais Cruzeiro e menos regulamento

Com a boa distância que o Cruzeiro, líder absoluto do atual Campeonato Brasileiro, abriu sobre os demais concorrentes, já estão aparecendo as viúvas do tempo que o campeonato era disputado com fases de "mata-mata".

Os saudosistas dos jogos eliminatórios ressaltam o absurdo de o torneio praticamente estar decidido já no final de setembro. Acho que as pessoas que questionam o sistema de pontos corridos para o Nacional, no lugar de criticarem a fórmula de disputa do torneio, deveriam prestar mais atenção ao grande desempenho que o Cruzeiro tem se apresentado durante toda a competição.

Aliás, boa parte dos insatisfeitos com o sistema de pontos corridos que surgem agora é de paulistas e cariocas, pois está claro que os clubes desses dois grandes centros, tirando o Botafogo, têm chances reduzidas de conquistar o torneio. Esses parecem se esquecer de que, desde que o atual sistema foi introduzido, apenas uma única vez - o Cruzeiro, em 2003 - não foi um time paulista ou carioca o vencedor do Brasileiro.

Não tenho dúvidas de que, se fosse um time de São Paulo ou do Rio de Janeiro que estivesse com o aproveitamento de pontos que o Cruzeiro tem no momento, não haveria adjetivos suficientes exaltando o time.

Todos falariam da força do elenco - elogiariam o critério das contratações e não classificariam alguns jogadores apenas como refugos dos grandes times de Rio e São Paulo -, das opções que o técnico tem para mudar a forma de a equipe jogar durante a partida e o equilíbrio do time, que consegue atuar de maneira ofensiva.

Sem dizer da pressão que haveria para a convocação para a seleção de alguns jogadores importantes, como o meia Everton Ribeiro - o grande destaque do time até agora na competição -, o goleiro Fábio, o volante Nílton e o zagueiro Dedé. Aliás, não custa lembrar que, quando Dedé jogava no Vasco, ele tinha o apelido de "Mito" e era apontado como o melhor zagueiro do país. Só que sua transferência para o Cruzeiro parece que o transformou em um jogador comum e só se fala do defensor quando ele falha em algum gol que o time cruzeirense toma.

O mesmo acontece com o técnico Marcelo Oliveira. Por mais que ele tenha armado o time que tem um excelente padrão de jogo e variações táticas, mesmo perdendo jogadores como Diego Souza, alguns só se referem ao técnico como o profissional que foi derrotado em duas finais consecutivas de Copas do Brasil com o Coritiba, o que é uma tremenda injustiça.

Não concordo e acho exagerado o termo "eixo do mal", que é a maneira como as pessoas de outros estados se referem à influência de São Paulo e Rio de Janeiro no nosso futebol, mas não posso deixar de dizer que paulistas e cariocas sempre demoraram a aceitar o sucesso de clubes e jogadores de fora dessas duas cidades.

Além do atual exemplo do Cruzeiro, e do Atlético-MG, que venceu a Libertadores deste ano, poderia citar outros exemplos. O Cruzeiro da década de 1960 - que deveria ter mais destaque na história de nosso futebol -, assim como o Internacional que conquistou o bicampeonato brasileiro em 1975/76, mas por um bom tempo foi visto como um time viril, que jogava duro e que tinha um estilo de jogo que fugia das características do futebol brasileiro. Há também o caso do Grêmio comandado por Luiz Felipe Scolari - que ganhou tudo na metade dos anos 1990 - que era classificado como um time violento, que jogava retrancado e tinha como única jogada ofensiva os cruzamentos para a área.

Ainda bem que a força do futebol brasileiro não se resume aos times do eixo Rio-São Paulo. E é bom ressaltar que o Cruzeiro não tem culpa nenhuma em ter disparado na tabela de classificação, só méritos.

Até a próxima!

Mais pitacos em: @humbertoperon

DESTAQUE
Para aqueles que gostam do "mata-mata", tem início as quartas de final da Copa do Brasil. Não tenho nada contra o sistema, mas, quando defendo o Campeonato Brasileiro em pontos corridos, é para não termos dois torneios nacionais decididos da mesma maneira, com finais em jogos eliminatórios. Assim, temos o Brasileiro, que realmente premia a melhor equipe da competição, e a Copa do Brasil, que dá a oportunidade de título para mais equipes, inclusive as mais fracas tecnicamente.

ERA PARA SER DESTAQUE
Para a rodada de poucos gols do último final de semana, apenas 14 em dez partidas - o que é a pior média de gols desde o início dos pontos corridos. Muito desse pífio desempenho dos ataques deve ser creditado aos nossos treinadores, que, nos últimos anos, só pensam em armar times que só sabem jogar defensivamente.


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