Folha de S. Paulo


Só se pensa em defesa

No futebol, nem os italianos, conhecidos por sua eficiência defensiva, são tão fissurados em se defender como os brasileiros. Nossa fama sempre esteve na habilidade e na força de nossos atacantes, mas é incrível como, nos últimos tempos, tem se falado muito em marcação e em como evitar gols no Brasil.

Essa cultura do defensivismo, que tomou conta do futebol brasileiro, agrada totalmente aos nossos técnicos, que, em sua maioria, pensam somente em não perder. Antes das partidas só é falado como um time tem de fazer para anular o adversário. Fico impressionado quando ninguém questiona quando um treinador diz que, para se acertar um time, é preciso primeiro arrumar o sistema defensivo, sobretudo o posicionamento dos zagueiros.

Para se arrumar qualquer time de futebol é preciso coordenar - e também fazer funcionar bem - os três setores da equipe: defesa, meio-campo e ataque. Não adianta jogar a responsabilidade nas costas dos defensores se um atacante não acompanha o avanço do lateral do adversário, ou se os homens que ocupam a faixa central do campo não conseguem evitar que os melhores jogadores do adversário tenham liberdade para armar os lances de ataque.

Os treinadores brasileiros adoram quando pegam um time em mau momento, pois assim ganham passe livre para armar uma retranca.

No futebol, é muito fácil armar um time somente para se defender. No Brasil é mais fácil ainda, já que a maioria dos treinadores não consegue armar uma equipe capaz de furar um esquema defensivo. Temos visto, nos últimos anos, clubes brasileiros sofrendo com equipes fracas da América do Sul, que se defendem utilizando duas linhas defensivas de quatro jogadores bem recuadas. Isso é fato.

Não existe nenhum erro em uma equipe se posicionar defensivamente e explorar os contra-ataques, isso é muito válido em algumas ocasiões. O que eu questiono é muitos aprovarem que o melhor para o time - principalmente para aqueles que estão perdendo vários jogos em sequência - é jogar apenas na retranca, se defendendo e querendo que a partida termine em 0 a 0.

Podemos falar isso do São Paulo, que empatou com o Corinthians no último domingo. Do que adianta o time comemorar não tomar um gol contra o Corinthians, se a equipe no clássico completou a sequência de quatro partidas sem marcar um único gol. Se o time conseguisse ter feito pelo menos um gol nessas partidas, muito provavelmente não teria embalado uma sequência de jogos sem nenhum triunfo. Sem dizer que, em muitas partidas, a defesa do time ficou exposta e levou um gol depois de o setor ofensivo perder vários gols. Quantas vezes não ouvimos alguém do clube dizer: "Estávamos jogando bem até tomar o gol"?

O brasileiro ficou tão fanático em defesa (ou ferrolho) que muitos usam a expressão "nó tático", que eu abomino. Ela é sempre citada quando um técnico consegue parar o adversário na marcação. Eu nunca vi alguém empregar essa expressão quando um time surpreende o adversário por ter um esquema ofensivo. Já disse aqui e volto a repetir que, no Brasil, a palavra tática se transformou em sinônimo de retranca.

Os nossos treinadores ganham um bom salário para arrumar um time e não apenas o setor defensivo, e precisam ser cobrados por isso e não reverenciados a cada empate em 0 a 0.

Até a próxima!
Mais pitacos em: @humbertoperon

DESTAQUE
Mesmo depois de passada mais de uma semana, não há como não falar da conquista do Atlético-MG na Copa Libertadores. O time mineiro fez uma primeira fase excelente e, nas fases eliminatórias, mostrou muita competência para conseguir os resultados necessários, como aconteceu nas semifinais, contra o Newell´s Old Boys, e na decisão, diante o Olímpia, quando conseguiu igualar a vantagem de dois gols dos adversários e venceu nas penalidades máximas. Na campanha, é preciso lembrar-nos do goleiro Victor, que conseguiu defender um pênalti, no último minuto, contra o Tijuana, no momento em que o time mineiro mais esteve ameaçado na campanha, e também do treinador Cuca, que sempre foi um bom técnico, um profissional que não tem medo de mudar a equipe e que foi compensado ao ganhar o título mais importante do continente.

ERA PARA SER DESTAQUE
A boa campanha da dupla Bahia e Vitória no início do Campeonato Brasileiro. As duas equipes baianas estão somando pontos importantes e, com a boa arrancada, têm tudo para ficar longe da zona de degola do torneio.


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