Folha de S. Paulo


A seleção e sua missão na Copa das Confederações

Nunca gostei da expressão: "a seleção é a pátria de chuteiras". Fico angustiado quando começa o coro nas arquibancadas de: "eu sou brasileiro, com muito orgulho!". Também não aprovo quando o técnico Luiz Felipe Scolari apela ao patriotismo para pedir o apoio dos torcedores.

Historicamente, não foi apelando para o nacionalismo exagerado que a seleção conseguiu o apoio dos torcedores. O Brasil sempre conquistou os torcedores quando mostrou bom futebol.

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Foi assim, por exemplo, que o time de 1958, que saiu desacreditado - e também vaiado - de nosso país, ganhou o apoio popular quando começou a dar show nos campos suecos liderado por Pelé, então um garoto de 17 anos.

Outro exemplo foi na Copa do Mundo de 1970, na campanha do tricampeonato. Com o país comandado por uma severa ditadura militar, não foram poucos aqueles que afirmaram que torceriam contra a seleção, pois uma vitória em campos mexicanos esconderia uma série de problemas que o país enfrentava naquele momento e que o triunfo seria usado como propaganda pelos militares - como de fato foi.

Mas quando aquela que é apontada como a melhor seleção de todos os tempos começou a vencer e a dar espetáculo não houve ideologia que impedisse qualquer brasileiro de torcer por aquele time fantástico.

Por isso, a grande missão do time de Felipão na Copa das Confederações é resgatar a credibilidade e o respeito dos torcedores pela seleção. Faz muito tempo que a nossa seleção não consegue atrair a atenção dos torcedores.

Mesmo aqueles que acompanham diariamente o noticiário, muitas vezes se perguntam: o Brasil vai jogar? Poucos se importam com a convocação, e cada vez menos se interessam em, ao menos, assistir aos jogos do time pentacampeão.

Com certeza, os nossos torcedores brasileiros se preocupam muito mais com seus clubes do que com a seleção. Quando o torcedor tinha uma relação de afeto com a "amarelinha" - outro termo medonho -, ele se sentia orgulhoso quando o craque de seu time era convocado para vestir a camisa amarela. E o fato de o jogador de seu time deixar o ídolo de uma equipe rival na reserva já era considerado uma vitória.

Hoje, o torcedor não deseja que algum atleta de seu clube seja relacionado, pois ele desfalcará a equipe em algum jogo importante e também dá indícios de que o profissional logo deverá ser transferido para o exterior. Também frustra o torcedor quando são chamados jogadores que ninguém conhece.

A ânsia de nossos dirigentes em ganhar dinheiro com o time brasileiro também afastou a seleção dos brasileiros. Nos últimos anos, o time jogou mais em Londres, por exemplo, do que em nosso território.

A sequência de partidas da seleção aqui no país durante na Copa das Confederações será importante para que a equipe volte a ter o respeito dos torcedores e importância na vida deles.

Por fim, como eu escrevi no início, a seleção só vai conseguir o apoio popular jogando um bom futebol. Pois, no Brasil, é o time que dita o comportamento da torcida, e não o contrário.

Até a próxima!
Mais pitacos em: @humbertoperon

DESTAQUE
Na partida contra a França, foi possível ver uma evolução da equipe brasileira. Mais do que a vitória de 3 a 0, no amistoso contra os franceses, a equipe, sobretudo no ataque, se movimentou mais, destacando o trio formado por Hulk, Oscar e Neymar. Também a equipe conseguiu fazer mais jogadas pelos lados do campo. Em várias oportunidades, os laterais Daniel Alves e Marcelo chegaram à linha de fundo. Na parte defensiva, ainda temos problemas. Assim, como na partida contra a Inglaterra, quando os franceses vinham com a bola dominada, eles conseguiam espaços em nossa defesa.

ERA PARA SER DESTAQUE
Na parada forçada do Campeonato Brasileiro para a realização da Copa das Confederações, duas equipes merecem uma citação: o Coritiba (Série A) e a Chapecoense (Série B). Ambos chegaram a esse estágio sem nenhuma derrota e, por isso, estão entre os líderes das competições que disputam.


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