Folha de S. Paulo


Preocupação demasiada com os adversários

O grande segredo do futebol - e são poucos que percebem isso - está na maneira de um time saber impor seu estilo ao adversário. Isso é muito simples e gera resultados. Foi por isso que ficamos encantados com as duas vitórias convincentes do Bayern de Munique sobre o Barcelona.

A equipe alemã não se intimidou com o ritmo de jogo e a suposta superioridade dos catalães e atuou como está acostumada. Não importa o adversário - ou o local -, o Bayern procura sempre jogar da mesma maneira. Garanto que, se o time de Munique mudasse seu sistema tático, procurando ficar fechado na defesa, só marcando o Barcelona, não seria considerado um exemplo de como um time deve se comportar no gramado.

Mas, aqui no Brasil, os times mudam suas características conforme o adversário - o que é simplesmente um equívoco. Quando se troca muito a forma de um time jogar, o resultado é a derrota.

Tivemos esse exemplo no jogo entre Boca Jrs. e Corinthians na semana passada. O time paulista entrou mais recuado do que o de costume, tentou administrar o resultado e, por isso, fez uma partida tecnicamente sofrível e acabou perdendo.

No ano passado, na final do torneio continental, a equipe encarou os argentinos no La Bombonera de igual para igual e conseguiu o empate. E também o time de Tite só foi campeão do mundo porque não foi covarde na final contra o Chelsea.

Por tudo isso, acho estranho o excesso de respeito que nossos times têm com os adversários. É só você prestar atenção ao que um treinador ou um jogador diz de uma partida, para perceber que ele só fala das qualidades da outra equipe e o que será feito para parar as principais jogadas do rival.

As equipes entram em campo tão preparadas para marcar o adversário que se esquecem de jogar. Como na maioria das partidas, principalmente nas que envolvem times equilibrados, os adversários têm o pensamento voltado apenas para combater o outro time, assistimos disputas enfadonhas e sem o mínimo de emoção. Os clássicos do Campeonato Paulista deste ano, com inúmeros jogos sem abertura de contagem, são um bom exemplo disso.

No compasso desse pensamento covarde, o nosso futebol doméstico se resume a esperar o que o adversário vai fazer. Assim como se fica na esperança que o time faça um gol na sua única chance, decida a partida numa jogada de bola parada, em uma jogada individual, na falha de um adversário ou até em um erro da arbitragem.

Essa troca constante de esquemas, pensando na forma do adversário jogar, faz com que os nossos times não tenham um padrão de jogo. Não se pode exigir que um time renda jogando num esquema tático diferente em cada partida que faz, não há como criar uma equipe estruturada. Todos os grandes times do planeta sempre tiveram uma forma de jogo bem definida, um conjunto equilibrado, com ataque forte e sólido sistema defensivo, não importando os jogadores que estivessem em campo.

Acho que a cultura de "respeitar demais os adversários" surge do fato de o brasileiro sempre querer fugir da responsabilidade de assumir que é o favorito em qualquer disputa. Parece que declarar que é melhor que o adversário é uma ofensa ou um ato de desrespeito ao oponente.

No futebol não dá para ficar esperando eternamente a ação do outro ou contar apenas com a falha do adversário para mostrar suas habilidades. É preciso tomar a iniciativa e se impor primeiro.

Até a próxima!
Mais pitacos: @humbertoperon

DESTAQUE
Parabéns para o Botafogo e o Internacional, que não deram chances a seus adversários e conquistaram por antecipação o título carioca e o gaúcho, respectivamente. Com as conquistas, ambos os times ganharam um tempo para saborearem a conquista e, o que é mais importante, fôlego para a preparação para o Campeonato Brasileiro, pois não precisarão estrear no Nacional apenas uma semana após vencer um título.

ERA PARA SER DESTAQUE
Que Santos e Corinthians, na final do Campeonato Paulista, consigam melhorar seu desempenho. As equipes estão jogando muito abaixo do que elas podem ou do que se esperam delas.


Endereço da página: