Folha de S. Paulo


Participantes demais, campeonatos de menos

O excesso de equipes deixa os torneios longos e recheados de jogos desinteressantes. E isso, infelizmente, não se limita aos nossos campeonatos estaduais, mas também às principais competições de futebol do mundo.

Apesar do discurso de que é preciso dar chances para todos, inclusive às equipes de menor tradição e de orçamentos apertados, o inchaço nos torneios faz com que a distância entre os poucos grandes e os inúmeros nanicos aumente cada vez mais. Lógico que as competições longas desgastam os principais atletas, que são obrigados a jogar mais vezes, até por exigência de seus patrocinadores e das TVs.

Vamos começar pelo principal torneio do futebol, que é a Copa do Mundo. O aumento do número de participantes para 32 países tirou boa parte do interesse pela primeira fase da competição, já que não temos mais clássicos e confrontos de equipes de tradição. Também, desde o sorteio dos grupos já é possível apontar, com quase 100% de certeza, quais as seleções que estarão na segunda fase.

O Mundial atualmente só começa mesmo na segunda fase, com o início os jogos eliminatórios. Ou seja, não é nenhum exagero dizer que, em pleno século 21, a Copa do Mundo continua muito parecida com a que era disputada em 1934 - com 16 times jogando no sistema mata-mata.

Na ânsia de conseguir mais votos, os dirigentes da Fifa fazem o impossível para não deixar ninguém de fora das competições. Hoje, todas as principais seleções do planeta estão com o passaporte carimbado para o Mundial. E, mesmo quando há duas forças num mesmo grupo, como acontece atualmente com Espanha e França nas eliminatórias da Europa, sempre há uma providencial repescagem para salvar um time de tradição.

Infelizmente, na esteira da Copa do Mundo, a Eurocopa, que para muitos é mais difícil de vencer que um Mundial, também vai ter seu número de participantes aumentado, fazendo com que a competição perca o prestígio que tem hoje. Sem dizer que o inchaço e a ânsia de se ganhar mais dinheiro já trouxeram até o Japão para disputar uma Copa América.

O excesso de clubes também está prejudicando duas das principais competições de clubes do planeta: a Champions League e a Libertadores da América. A cada ano, sobretudo na competição sul-americana, vemos clubes sem nenhuma condição de participar de um torneio internacional.

Penso que o Campeonato Brasileiro da Série A também poderia ter menos participantes, melhor dizendo: o número ideal seria 16. Além da drástica redução do número de jogos que cada equipe faria --dos atuais 38 para 30-- seria obrigatório que os times contassem com elencos melhores, o que subiria o nível técnico do torneio, para se manter na elite do nosso futebol.

No futebol, definitivamente quantidade nunca será sinônimo de qualidade.

Até a próxima!
Mais pitacos: @humbertoperon

DESTAQUE
É normal que qualquer jogador passe por uma fase ruim em sua carreira. Por isso, chega a ser injusto cobrar de Neymar a decisão de todas as partidas. O mau momento que ele passa se deve principalmente pela falta de condicionamento físico. Agora, o corpo do jogador está cobrando tudo que ele fez nos últimos dois anos, como o excesso de jogos-- em várias oportunidades ele atuou em dois jogos em dias consecutivos--, muitas atividades longe dos gramados e a responsabilidade de, em várias vezes, carregar o time do Santos nas costas.

MERECE DESTAQUE
Não faz o menor sentido a atitude da CBF --e também dos clubes-- de tirar os clássicos regionais nas derradeiras rodadas do Campeonato Brasileiro. A medida adotada nos últimos anos acabou com qualquer suspeita de equipes que teriam facilitado a vida de algum clube para prejudicar um rival e deu credibilidade ao torneio.


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