Folha de S. Paulo


O quanto o futebol cobra

O período de férias se transforma em um grande tormento para quem gosta de futebol. Está certo que as transmissões dos campeonatos internacionais - também da Copa São Paulo - ajudam a diminuir a saudade de assistir uma boa partida, mas o fã ainda sente um grande vazio, pois tem vontade de ver seu time de coração em campo.

Essa parada em nosso futebol profissional me faz pensar como o essa paixão cobra e consome a todos que convivem com ele durante todo o ano.

No caso dos torcedores, a cobrança é intensa. Existe a grande preocupação semanal que todo fã tem antes de cada partida. Dependendo da importância do jogo, há aqueles fanáticos que não se alimentam direito, não conseguem dormir, e a ansiedade chega a níveis tão elevados que ele não consegue ter nenhuma relação social, pois fica arredio e não consegue nem conversar. Ainda há o esforço para conseguir um ingresso para ver seu time no estádio.

E toda essa amargura é multiplicada por dez enquanto a bola rola.

Se o time vence no fim de semana, toda a tensão é aliviada. Mas, em caso na derrota, a sensação de fracasso é imensa. A expectativa para o próximo jogo aumenta e é preciso grande paciência para aguentar a gozação dos rivais por longos sete dias.

Além do desgaste emocional, que em casos extremos pode ter um final trágico, o futebol hoje exige muito financeiramente de quem tem paixão cega por um determinado time.

Atualmente, para os dirigentes, o torcedor é um consumidor. E, assim como ocorre em outros países e com outros esportes, os clubes querem os torcedores comprando as inúmeras camisas que são lançadas a cada temporada, que ele seja um sócio-torcedor e não pare de consumir produtos ligados ao time. Sem dizer, que para não perder um só jogo do seu time de coração, o torcedor torna-se assinante do pacote pay-per-view.

Em busca de uma carreira milionária - que infelizmente chega um número extremamente reduzido de profissionais - o futebol acaba consumindo a vida particular do jogador. Por exemplo, o esporte exige que jovens invistam na carreira desde cedo, por isso, meninos largam os estudos para se tornarem atletas.

Só que o funil é muito estreito e temos milhares de garotos que, aos 20 e poucos anos, são dispensados de clubes e não sabem o que farão da vida. Além do sentimento de culpa por não conseguir tirar a família da miséria, há a certeza que eles irão viver de bicos e subempregos só porque falharam na única oportunidade que tiveram.

Sem dizer que os profissionais que têm sucesso levam uma vida sacrificada. Apesar da fama - que para alguns significa apenas viver cercado de "marias-chuteiras", pagar as contas de inúmeros agregados e ir a uma boate da moda -, o profissional de futebol sofre. Na carreira, ele não tem fim de semana de folga, passa muito tempo viajando e, em muitas vezes não consegue ter relacionamento social e familiar.

Para alguns ídolos, a vida deles só existe enquanto eles têm sucesso nos gramados. Muitos, depois que param, perdem tudo o que conquistaram, pois simplesmente não sabem administrar o dinheiro que juntaram durante a carreira.

O futebol tem todo o direito de cobrar, pois, para muitos, o esporte é a esperança de uma vida melhor, o sustento, de ter uma semana feliz ou ser o último amigo que procuramos quando não temos nenhum refúgio.

Até a próxima!

Mais pitacos em: @humbertoperon

DESTAQUE

Achei acertada a saída de Vagner Love do Flamengo. A equação é simples: o jogador custava muito caro e, no campo, não rendeu o que se esperava. E o clube ainda teria de gastar muito dinheiro até o final de seu contrato. Que o caso sirva de lição aos dirigentes de outros clubes, pois hoje alguns jogadores são tratados como ídolos, são queridinhos de alguns torcedores, mas que não trazem nenhum retorno técnico.

ERA PARA SER DESTAQUE

Os palmeirenses devem estar felizes com o término do mandato do presidente Arnaldo Tirone. Apesar da conquista da Copa do Brasil no ano passado, sua gestão foi uma tragédia. O clube, além de cair para a Série B do Brasileiro, perdeu muito espaço - em todos os aspectos - para seus principais concorrentes: Corinthians, São Paulo e Santos. Com a casa tão desarrumada, o time começou o ano sem o número suficiente de jogadores para fazer um treino coletivo.


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