Folha de S. Paulo


Drama, reação e reflexão

Ele passeava pela praça XV quando alguém lhe agarrou pelo braço:

-Manoel, sua casa está pegando fogo em Niterói e sua mulher corre risco de morrer queimada! Vai lá, homem, vai salvá-la!

Desesperado, ele pegou a primeira barca. Já no meio da baía da Guanabara, pensou: "Espera aí... Eu não moro em Niterói, não sou casado e não me chamo Manoel, o que é que eu estou fazendo aqui?".

O drama fez com que ele reagisse. A lentidão da barca permitiu que ele refletisse.

Somos todos descendentes daqueles que sobreviveram a situações dramáticas na savana africana. Pense bem: se você visse lá uma gente correndo, era melhor reagir e sair correndo junto antes de refletir, pois se ficasse parado as chances de ser comido vivo por uma fera eram grandes. Somos, pois, descendentes de reativos, apenas a minoria tem capacidade de reflexão. Drama e reação vêm juntos, e situações dramáticas não faltavam na savana, há 200 mil anos.

De 10 mil anos para cá o drama diminuiu: a agricultura e a vida urbana trouxeram o tempo livre e a filosofia. Com isso, a capacidade de refletir começou a ser cultivada na espécie como uma novidade que tem rendido muitos frutos. A tecnologia pode ser o mais notável deles, mas a admiração que temos por aqueles que mostram sabedoria é um estímulo para o cultivo da reflexão. Isso sem falar que cada vez mais o trabalho intelectual é valorizado sobre o braçal, o reflexivo ganha mais que o reativo.

Pois o que me fez refletir e escrever hoje foi a expressão que um cliente jovem usou para dizer que gostava de mim: "'Tamo' junto e misturado, doutor". Diante da minha perplexidade, ele me explicou que isso era a declaração máxima de amor entre seus amigos e familiares, pois unidos e solidários ficariam diante de qualquer ameaça. Não precisava me explicar que ameaça era essa, pois sua família vivia imersa em dramas, e quando não os havia, providenciavam um, fazendo tempestades em copos d'água. A toda hora, uma exigência de lealdade: "Você está contra nós?". A pergunta dramática não permitia reflexão, só reação...

Expliquei-lhe que meu trabalho era cultivá-lo como indivíduo, alguém separado da massa com capacidade de pensar, de refletir.

Que ninguém reflete sobre pressão, por isso invisto em retirar drama de sua vida, para que ele possa parar e questionar antes de agir.

Que criar drama é uma arma política para impedir o pensamento: Nicolás Maduro e sua guerra de fronteira para "unir" os venezuelanos; o lulopetismo e o "nós contra eles", ricos contra pobres, "insatisfação é golpismo", dividir para reinar. O drama gerando estupidez, transformando indivíduos em massa... de manobra.

Que a cultura Facebook estimula reações, julgamentos rápidos, pois lá tudo é dramático e todos se ofendem por qualquer coisa, não há espaço para refletir.

Que vivemos a mais grave guerra de extermínio, a de eliminação do indivíduo: o Islã contra os cães infiéis. Islã significa resignação/submissão a Alá. Fé cega exige obediência, nunca reflexão. Matar milhares é pouco: filmar o indivíduo sendo queimado vivo na jaula nos aterroriza mais e diz tudo: morte ao indivíduo, morte à reflexão.


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