Folha de S. Paulo


As gerações na política

BRASÍLIA - José Sarney anunciou que vai se aposentar. Quando um político como ele desiste de disputar novos mandatos surge a tentação de falar em "fim de uma era" ou de grande "troca geracional" à vista. Não vai ocorrer nem uma coisa nem outra.

O que há é um processo constante de troca dos mais velhos pelos mais jovens –na política e em outras atividades. Um sai apenas porque um outro já chegou e desempenha o mesmo papel, não necessariamente de forma mais eficaz ou melhor.

É assim agora na iminência da aposentadoria de dois veteranos senadores, José Sarney (do Maranhão e eleito pelo Amapá) e Pedro Simon (do Rio Grande do Sul), ambos do PMDB. A política segue o seu curso. Em todas as eleições sempre há alguém muito experiente que fica de fora. Em 2010, foi a vez de Marco Maciel, derrotado em Pernambuco.

E conforme o Brasil se moderniza, há também um fato indisputável. Trata-se da troca de guarda no Congresso com a redução lenta e gradual de ricos tradicionais e a chegada de políticos emergentes. O fenômeno está documentado na valiosa pesquisa realizada por Leôncio Martins Rodrigues no seu livro "Pobres e Ricos na Luta pelo Poder" (Topbooks).

"A proporção de deputados vindos das classes altas, ricas ou proprietárias tem diminuído. Em 1998, deputados empresários ocupavam 45% das cadeiras. Em 2010, baixaram para 37%. A queda foi maior entre os empresários rurais, de 12% para 8%", diagnosticou Leôncio em entrevista a Ricardo Mendonça.

Em certa medida, Sarney está sendo compelido a sair de cena agora pelas mesmas razões que o levaram a ter uma longa carreira na política. Quando se consolidou no Maranhão, ainda na década de 1960, ele era um emergente e sem recursos. Hoje, no Amapá, tornou-se o oligarca que é desafiado por gente mais modesta, formada em partidos mais populares como o PT, o PSOL e o PSB.

É o relógio da política em ação.


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