Folha de S. Paulo


Temer vai abusando da sorte

Além de assumir interinamente nos estertores da mais aguda recessão do país, Michel Temer está com sorte em relação à economia internacional: o trimestre encerrado em junho trouxe o melhor resultado para o conjunto dos países em desenvolvimento desde 2014.

A melhora vem acompanhada de uma recuperação mundial na demanda por commodities como as que o Brasil exporta e de uma procura crescente, nas economias ricas, por oportunidades de ganho ao redor do mundo.

Os três quadros aqui publicados mostram em suas extremidades à direita como todas as variáveis econômicas e de demanda já confirmadas ou esperadas são ascendentes, mesmo que timidamente, em relação há dois ou mais anos.

Editoria de arte/Folhapress
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Embora países como o Brasil e Venezuela puxem a média para baixo, há um otimismo renovado na economia internacional em relação aos emergentes depois de uma caída geral no final do ano passado.

Isso significará mais fluxos de dólares para países que precisam financiar, por exemplo, grandes projetos de infraestrutura ou reforçar o caixa de suas empresas com captações de recursos no exterior.

Neste ano, as companhias brasileiras já captaram mais de US$ 13 bilhões vendendo títulos para investidores internacionais. O valor é 75% maior do que toda a captação em 2015; e os juros pagos aos compradores estão em queda diante da procura por papéis de empresas de países emergentes.

Internamente, analistas já apostam em uma tendência de alta consistente para a Bovespa, que deverá contar com o ingresso crescente de investidores internacionais. Isso deve promover a valorização de empresas bem no momento de saída da recessão.

Com o pior da recessão de Dilma chegando ao fim e o cenário externo melhorando, os problemas internos do Brasil se tornam cada vez mais evidentes.

Os mais urgentes são a trajetória explosiva da dívida pública (que terá saltado quase 20 pontos em três anos, para 75% como proporção do PIB ao fim de 2016) e o deficit fiscal recorrente, estimado neste ano em quase R$ 200 bilhões.

Temer já trocou a equipe econômica incompetente de Dilma por nomes afinados com o mercado e empresários. E prepara medidas como o teto para os gastos públicos.

Mas cedeu em relação ao funcionalismo público, com aumentos que custarão R$ 67,7 bilhões até 2018, e ainda não apresentou nada consistente em relação à insustentabilidade da Previdência.

É possível que medidas e projetos de reformas estruturais venham no pós impeachment, em agosto. A ver. Pois a sorte de Temer não deve ir muito além do que já foi.


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