A não estratégia do governo de São Paulo na questão das escolas deveria entrar para os manuais de como não se comunicar com a população. Foi um desastre, do começo ao fim.
Acostumado a se portar de forma opaca, seja com dados "sigilosos" ou na condução de investigações (casos do metrô e da PM), o governador Geraldo Alckmin e equipe inferiram que a medida seria mais um passeio.
Resultado: 196 escolas do Estado estão ocupadas. É menos de 4% do total de 5.127 unidades em São Paulo. Coisa de que a PM poderia dar conta, no raciocínio do governo até aqui, não fosse a energia e o tempo livre de que os jovens dispõem.
A rede paulista perdeu um terço de seus alunos (2 milhões) desde 1998 por conta da diminuição da natalidade, da municipalização de parte do ensino e do avanço das escolas privadas. Hoje, tem 3,8 milhões de alunos. É totalmente defensável que uma reorganização seja feita.
Faltou tato, transparência e, sobretudo, comunicação para fazer desse limão (que agora azedou de vez) uma limonada.
O plano de Alckmin veio à tona no final de setembro, para valer já em 2016. Chegou a falar, do nada, na transferência de 1 milhão de alunos. Um mês depois, o total caiu para 311 mil alunos e 92 escolas.
Trata-se, portanto, do fechamento de 2% das escolas e da transferência de 8% dos alunos. Algo manejável não fosse a opacidade de sempre do governo paulista.
Bastava o governador ou seu secretário de Educação colocar "o gato no telhado" anunciando, com antecedência e publicidade, a mudança real na demografia das escolas. Uma entrevista bastava.
Depois de um tempo, aventar um plano que dependeria de um mínimo de consultas populares, tendo como objetivo economia de recursos e a melhoria das escolas restantes.
Sem sensibilidade ou estratégia para amortecer "corações e mentes", o governo agiu como sempre. Ignorou que a mudança envolveria milhares de alunos, mães, logística de transporte e elementos subjetivos, porém fortes, como amizades e pertencimento a determinado grupo escolar e geográfico.
De defensável do ponto de vista lógico e econômico, o assunto transbordou, com a sempre elegante ajuda da PM, em uma batalha campal.
Bater em estudantes de bermudas que se propõem a protestar para não serem "expulsos" de suas escolas é algo realmente difícil de defender.