Folha de S. Paulo


Depois da tempestade

Desde a reeleição de Dilma Rousseff em outubro, o Brasil entrou em um "liquidificador" com potencial para encaminhar diversos problemas que poderiam levar anos para serem atacados, atrasando ainda mais o nosso atraso.

Estamos diante do reconhecimento de que a ortodoxia econômica volta a ser o caminho, de que empreiteiros podem acabar presos na simbiose público-privada das estatais e de que o PT como partido se tornou um engodo, agora sob risco de implosão.

Do ponto de vista mais geral, ao "terceirizar" o comando econômico e político do governo, após quatro anos erráticos, a presidente abre mão de boa parte de seu poder e tira o bode da sala, que atendia pelo nome de Dilma Rousseff.

Mas restam muitas dúvidas do que será feito disso e sobre quem se beneficiará politicamente mais à frente. Se está determinado que as coisas terão ainda que piorar antes de começar a melhorar, também é certo que o Brasil não acaba.

Do ponto de vista político, a nova composição com o PMDB no comando do Congresso e da articulação diminui boa parte das incertezas.

Na economia, se ainda não há grandes "brotos verdejantes", o terreno está sendo minimamente preparado por um Ministério da Fazenda finalmente forte e de viés liberal.

Alguns dos faróis de milha do mercado já avistam inflação declinante, dólar mais estável e uma crescente perspectiva de valorização de ativos. Fluxos de estrangeiros (que enxergam longe) continuam firmes e até as ações da Petrobras acumulam valorização de mais de 30% neste abril.

Embora seja fato o cenário econômico muito ruim neste ano-calendário de 2015, já há empresários e agentes econômicos mudando moderadamente de humor em relação aos trimestres mais à frente.

É de se esperar também, além do doloroso ajuste fiscal, que a Fazenda crie fatos para despertar o capital, como o novo programa de concessões a ser anunciado em maio, e o encaminhamento de outras agendas, no Congresso, como o projeto da terceirização.

A maior incógnita há dois meses eram as ruas. Elas mostraram sua força e o descontentamento geral em 15 de março e arrefeceram em 12 de abril. Suas lideranças já reconhecem que não é por aí.

O grande fato novo é o comportamento do candidato derrotado em outubro na eleição mais apertada desde a redemocratização. Ao sair da neutralidade e passar a falar em impeachment, Aécio Neves também parece vislumbrar uma acomodação mais positiva, com riscos pessoais.

No Brasil, candidatos, e não partidos, vencem eleições. Se ficar, a Dilma criatura terá tempo para atravessar a arrebentação da praia brava em que nos meteu, e tentar devolver o leme que lhe foi dado em 2010 ao que "melhor" restar do PT.


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