Folha de S. Paulo


O futuro, de Collor a Dilma

A eleição de 2014 marcará um quarto de século da redemocratização da política brasileira. A arqueologia desse período produz um impasse.

Em 1989, vitória de Fernando Collor contra Lula. Para o bem e o mal, o "caçador de marajás" e crítico das "carroças" da indústria automotiva abriu o Brasil a fórceps.

Ondas de importados levaram a uma modernização produtiva, deixando milhares de empresas ineficientes pelo caminho. As estacas da competição externa foram fincadas.

Segundo ato: Itamar-FHC resolvem o grande problema de fundo. Estabilizaram a moeda com o real na transição 1994-1995.

Ato contínuo, FHC implementou reformas e a privatização que lançariam as bases para uma modernização mais duradoura do país. Plantou também a semente das bolsas.

Sob Lula, começaria um projeto maior de diminuição das desigualdades e melhora na distribuição de renda. Tudo empacotado em um ambiente externo favorável e, internamente, amigável ao capital.

Estabilização e modernização de FHC e melhora social sob Lula tiveram financiamento via aumento da carga tributária. O peso dos impostos sobre a sociedade saltou de 25% como proporção do PIB no governo FHC-1 para 34% ao final dos anos Lula.

Mais: combinadas, estabilização, modernização e distribuição de renda encorajaram bancos aqui e de fora a expandirem de modo fantástico o crédito ao consumo e imobiliário. A melhora das condições de vida tornou-se inegável.

Finalmente, Dilma. Qual o seu legado?

A economia já está aberta (Collor), estabilizada (Itamar-FHC), minimamente modernizada e privatizada (FHC 1 e 2) e distribuiu parte de sua renda (Lula).

Dilma soube aproveitar o que recebeu e ampliou programas sociais, educacionais, de moradia. E manteve o desemprego baixo. Mas não criou uma nova onda que levasse o país a um novo patamar.

Ao contrário, queima gordura recebida de antecessores. Inflação em alta, gastos maiores do governo e aumento do deficit externo são sintomas da falta de um projeto de futuro.

Sem espaço para mais impostos e endividamento familiar, restaria naturalmente a Dilma, neste estágio, a boa saída do estímulo a investimentos privados na produção e infraestrutura.

Dilma não seduz ou estimula isso. Faz sentido a apreensão atual.


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