Folha de S. Paulo


É necessário estimular a cooperação entre prefeitos da mesma região

Adriano Vizoni - 27.mai.2015/Folhapress
SÃO PAULO, SP, 27.05.2015: UNIDADE-CONTROLAR - A antiga unidade do Controlar, na Barra Funda na zona oeste de São Paulo, nesta quarta-feira (27). (Foto: Adriano Vizoni/Folhapress)
Unidade antiga de inspeção veicular para veículos na Barra Funda, zona oeste de São Paulo

As eleições municipais são muito mais importantes hoje do que no passado, porque os governos locais, desde 1988, assumiram várias funções essenciais à vida dos cidadãos. De um lado, tornaram-se o nível de governo mais importante na implementação das políticas sociais. De outro, os problemas urbanos agigantaram-se nas últimas décadas, e os municípios têm um papel estratégico em temas como mobilidade e organização espacial do desenvolvimento das cidades. Mas algumas questões dependem de decisões intermunicipais para serem equacionadas. Como resolver isso se os cidadãos votam para prefeito e não para um governante regional?

Inicialmente, vale destacar o sentido da agenda intermunicipal. Problemas como resíduos sólidos, mobilidade urbana e mesmo temas locais que são muito caros para municípios pobres, como a compra de merenda ou a formação de professores, tendem a ser mais bem geridos por governanças cooperativas entre municípios, tais quais os consórcios no Brasil.

Duas polêmicas recentes em São Paulo mostram a importância dessa agenda. A primeira foi a de tentativa de instalar a inspeção veicular apenas para veículos emplacados na capital.

Obviamente que ia dar errado, porque o problema é metropolitano, pois muitos carros que passam na cidade vem dos municípios vizinhos. Na mesma linha de dificuldades está a licitação de ônibus, voltada apenas para o transporte local, quando tecnicamente é necessário articular as diversas linhas desse tipo de transporte que se originam dos municípios fronteiriços.

Em termos de políticas públicas, o problema parece óbvio, mas há muitas dificuldades institucionais e políticas no meio do caminho. Primeiro porque há poucos incentivos para as prefeituras cooperarem entre si. Na maior parte dos setores, não há incentivos financeiros que favoreçam a opção pela intermunicipalidade. Além disso, os prefeitos de uma região podem ser adversários partidários, e eles poderão competir futuramente em eleições legislativas estaduais ou federais. E pactuar com um provável competidor não é uma escolha fácil. Para piorar, os órgãos de controle, principalmente os Tribunais de Contas, não conseguem enxergar além do federalismo triádico, União, Estados e municípios, criando dificuldades burocráticas para consórcios e outras formas cooperativas.

Mesmo com tais obstáculos, há boas experiências consorciadas pelo país afora. Os consórcios de Saúde são muito importantes em Estados como Minas Gerais. Em comparação à balbúrdia de outras metrópoles, a questão do transporte coletivo foi mais bem equacionada pelo Consórcio Metropolitano do Recife. Mas o caso paradigmático ainda é o do Consórcio do Grande ABC, que não só lidou melhor com problemas comuns de políticas públicas, como também congregou a sociedade num projeto regional de desenvolvimento. Sem isso, a crise na região seria muito maior hoje.

As inovações ainda são exceção e são necessários mais estímulos à cooperação intermunicipal, como fez a Lei dos Resíduos Sólidos. De todo modo, persiste a questão original do artigo: os eleitores votam para prefeito e o debate se concentra nos temas locais. É verdade que o prefeito tem hoje múltiplas e importantes atribuições, não sendo mais um Odorico Paraguaçu a construir cemitérios. Contudo, nenhuma prefeitura resolverá sozinha todos os problemas coletivos sem ações cooperativas com os municípios vizinhos. O eleitor não escolherá um super-homem municipal, mas um líder com responsabilidades locais que precisa se articular regionalmente.


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