Folha de S. Paulo


Dois poemas infantis

Pedro Piccinni

ODE AO MACARRÃO

macarrão é a comida dos deuses
macarrão é um tipo de calma
macarrão é um tipo de sonho
macarrão é a comida da alma

macarrão é a mãe explicada
macarrão é uma espécie de amor
macarrão é o melhor desta vida
macarrão para vereador!

macarrão é gostoso no almoço
macarrão é demais no jantar
macarrão de café da manhã
minha mãe nunca que vai deixar

macarrão com cebola e tomate
macarrão com manteiga e azeitona
macarrão, carne e queijo ralado
macarrão - ai meu Deus! - na japona

macarrão quando estou meio triste
macarrão quando estou delirante
macarrão quando estou sem sentido
macarrão quando estou lendo Dante

macarrão é a infância no prato
macarrão é a nossa bandeira
macarrão é a única coisa
mais legal que qualquer brincadeira

*

POEMA DAS CASAS

uma casa é uma caixa coberta
as paredes, o telhado em cima
uma casa tem portas, janelas
no jardim dá pra brincar de esgrima

uma casa protege do frio
e é fresquinha nos dias de calor
já vi casas cortadas por rios
e uma casa transbordar de amor

de uma casa se entra ou se sai
numa casa se fala e alimenta
eu queria ser como meu pai
ter uma estante de ferramentas

há famílias que vivem em casas
e pessoas que vivem nas ruas
é tão triste dormir numa casa
quando há gente dormindo nas ruas

uma vez fui embora de casa
porque um dia é preciso ir embora
fiquei anos como que sem asas
só, sonhando, do lado de fora

uma casa pode durar séculos
mas também pode ser derrubada
algum deus nos confins do universo
chora ao ver casas abandonadas


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