Folha de S. Paulo


Desastres

DESASTRE

as nuvens de Szymborska e Maiakóvski
as nuvens de Quintana e Baudelaire

como eu queria
ser um desses poetas

que falam de nuvens porque já não suportam
mais o que existe abaixo delas

e escrevem "nuvem"
quando planejam escrever "desastre"
criaturas cujo trabalho é transformar
ininterruptamente

a nuvem que nasce na nuvem que morre
pois um desejo é sempre outro desejo

que formas ganhariam meus poemas?
que branda energia saberiam invocar?

nas ruas das cidades arrasadas
sorrindo por dentro e tocando o terror

Guazzelli
Ilustração para a coluna de Fabrício Corsaletti de 03/04 - revista sãopaulo

ROUBADO DE RUMI

temos um barril de vinho
mas não temos copos
tudo bem

de manhã enchemos a cara
e de noite enchemos
a cara de novo

dizem que não temos futuro
é verdade
tudo bem


Endereço da página: