Folha de S. Paulo


O quarto passo

Brabham, Stewart, Lauda, Piquet, Senna. E Hamilton.

O passo foi dado no ano passado. O terceiro passo.

Aos 30, Hamilton entrou para o clube dos tricampeões mundiais.

Acima deles, só os tetras Prost e Vettel, o penta Fangio e o hepta Schumacher.

Nomes, quase todos, que passamos a vida venerando. Marcas que considerávamos inatingíveis. Que conferem a essa turma um ar mitológico.

Mas não. Não são mitos, não são deuses. São homens de carne, osso –e talento acima da média.

Que têm direitos às mesmas indulgências que todos nós.

Na semana passada, esta coluna criticou a posição de Hamilton sobre o "halo". Era um assunto de pista, de corrida, de segurança do esporte.

Nesta semana, a coluna é de apoio à liberdade do inglês para fazer o que quiser fora das pistas –desde que não infrinja nenhuma lei, por óbvio.

Na última terça, num evento do canal de TV em que trabalha, Coulthard disse estar "preocupado" com o estilo de vida do tricampeão. Vale reproduzir sua declaração.

"Lewis divide seu tempo entre pilotar um F-1 e ser uma estrela global. O carro de um lado, a música de outro. Estamos todos esperando para ver quando algo vai dar errado (...) Sabemos que ele está em forma e que mantém o foco quando entra no cockpit. Mas ele tem uma vida social intensa longe das pistas. E está vivendo seu sonho americano. Sabemos que essa rotina de voar pra lá e pra cá não é nada fácil. Será neste ano que ele pagará o preço por isso? Não sei. Espero que não."

(É irônico ver frases assim saindo de Coulthard. Fora das pistas, ele era igualzinho. A diferença está nos resultados que um e outro conseguiram na F-1.)

Aos fatos.

Hamilton é uma estrela desde a adolescência. Entrevistei-o em 1999, quando ele tinha 14 anos e já frequentava os corredores da McLaren. "Sempre fui bom", disse na ocasião.

Teve uma primeira temporada espetacular, na qual quase foi campeão. É verdade que ele perdeu aquele campeonato por uma questão psicológica. Mas foi pressão. Não foi distração.

De lá para cá, amadurece a cada ano. Também cai mais na balada a cada ano. Mas uma coisa não interfere na outra. Não é achismo. Os resultados mostram isso.

Nas férias, ele zanzou por Los Angeles e Nova York, postou fotos cercado por belas modelos, viu a premiação do Oscar ao lado de Elton John e Charlie Sheen. Por fim, está sendo investigado por fazer uma selfie enquanto pilotava uma moto na Nova Zelândia.

É tudo problema dele.

O 67º Campeonato Mundial de F-1, que começou ontem, tem um franco favorito.

Hamilton está pronto para dar o quarto passo.


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