Folha de S. Paulo


Escrevendo a história

A irritação de Rosberg no episódio do boné arremessado por Hamilton, na antessala do pódio de Austin, é muito mais do que bronca pontual por um mau resultado.

É um sinal do que vem pela frente.

Domínios na F-1 tendem a ser longevos. McLaren, Williams, Ferrari e Red Bull demoraram a sair do topo uma vez que lá chegaram.

A Mercedes fez um trabalho sólido, sem pressa. Começou com o DNA de gênios como Brawn e Schumacher. E está sendo levado adiante por gente competente, como Wolff, Lowe e Lauda.

Tudo indica que a Mercedes ficará mais alguns anos na frente.

Primeiro, pelo que vem fazendo. Em 16 etapas, foram 15 poles, 13 vitórias e 10 melhores voltas. No México, provavelmente Hamilton quebrará a marca de 3.000 km liderando GPs nesta temporada –o segundo colocado no campeonato e na estatística, Vettel, não chegou aos 900. Mais: desde 2011 um piloto não conquistava um título com tanta antecedência.

Depois, pelo que a concorrência não faz. A Red Bull continua sem saber com que motor correrá em 2016. A Ferrari se pendura apenas no talento de Vettel. A Williams não consegue fazer um pit stop decente. A McLaren virou uma piada. O resto é resto.

Resta, portanto, a disputa interna. E Hamilton engoliu Rosberg em 2015. Do começo ao fim.

Na Austrália, abertura da temporada, emplacou logo um hat trick: vitória, pole, melhor volta. Duas corridas depois, na China, repetiu a dose. O recado estava dado.

O alemão não foi sombra do piloto combativo de 2014. E é emblemático que o tri tenha vindo nos EUA: foi lá, em Austin, que Hamilton fez a corrida decisiva para o bi.

Não foi um "faster than you", mas Rosberg parece não ter recuperado daquilo até hoje. Sua autoconfiança foi pro buraco na mesma proporção em que Hamilton ganhou moral.

Daí a cena a que o mundo assistiu na transmissão do GP do último domingo: o alemão devolvendo o boné para Hamilton, jogando-o com fúria.

Rosberg acusou o golpe.

Em condições normais de temperatura e pressão, Hamilton vai ampliar seus recordes.

Provavelmente superará as 51 vitórias de Prost e alcançará o pentacampeonato de Fangio. Em números, tem tudo para se tornar o segundo maior da história. A depender da longevidade do domínio da Mercedes, pode até ameaçar algumas marcas de Schumacher.

Hamilton está escrevendo história.

MOTOGP

O que Rossi fez com Márquez em Sepang confirma um velho dogma do esporte a motor: não existe campeão bonzinho.

Mas o prejuízo para a imagem do italiano é enorme. Essa mácula ele carregará pelo resto da carreira. Foi sua escolha.


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