Folha de S. Paulo


Nunca mais

"É Brasil, Brasil, Brasil! Três vezes Brasil! Título mundial! Primeiro lugar para Nelson Piquet! Segundo lugar para Roberto Pupo Moreno!"

A narração de Galvão Bueno para a chegada do GP do Japão de 1990, resgatada nesta semana em programas de TV e redes sociais por conta da efeméride do bicampeonato, atingiu este colunista com uma pancada seca, uma pergunta inevitável.

O que aconteceu?

Não foram poucas as análises sobre a crise no automobilismo brasileiro. Não foram poucos os alertas para a estiagem que viria –e veio. E não foi só aqui que você leu sobre isso: era claro, escancarado, até para aqueles que só ligam a TV no GP Brasil.

Mas, caramba... Aquelas cenas e aquela narração hoje soam como obra de ficção: "É Brasil, Brasil, Brasil! Três vezes Brasil!"

Dois brasileiros numa mesma equipe conseguindo uma dobradinha num GP. Duas bandeiras do Brasil hasteadas lá no pódio. O hino tocando. E, enquanto isso, um terceiro piloto do país comemorando seu segundo título mundial.

É, parece história inventada, obra de uma mente criativa. E faz apenas 25 anos!

Não sabíamos, inocentes e mal acostumados que éramos, que aquela corrida marcava o fim de uma era.

Piquet e Moreno formaram a 11ª dobradinha do país na categoria máxima do automobilismo, todas conquistadas num intervalo de 15 anos. Depois daquele 21 de outubro, nunca mais.

Senna conquistaria mais um título, no ano seguinte. Mas já foi um brilho solitário, com Piquet vivendo o ocaso da carreira. Pujança como em Suzuka-90, nunca mais.

Nesta Folha, um artigo de Matinas Suzuki Jr. fazia uma pergunta que parece insana hoje em dia mas que fazia todo o sentido após aquela madrugada. "Eram os deuses pilotos brasileiros?" Imaginarmo-nos os maiores do mundo, nunca mais.

Nunca mais?

Nunca diga nunca, recomenda a prudência.

Às favas com o dito popular. O sucateamento das categorias nacionais, o descaso das montadoras, a inépcia dos dirigentes e a "barrichellização" dos pilotos brasileiros, subservientes aos desejos de seus companheiros e equipes, gritam mais alto. Nunca mais.

SENNA

A versão para o cinema da série "Ayrton, Retratos e Memórias", exibida pelo Canal Brasil, fará sua estreia na próxima segunda-feira, na 39ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Será às 22h, no Frei Caneca 1. Para informações sobre outras exibições, é só dar um pulo lá no site da Mostra: www.39.mostra.org

HAMILTON

Dois pilotos alemães têm a difícil missão de impedir o tricampeonato de Hamilton em Austin. Uma chave pode ser o treino classificatório, no sábado. Nos três GPs disputados até hoje no Texas, foram duas poles de Vettel e uma de Rosberg. Os deuses, hoje, são eles.


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