Folha de S. Paulo


Há 60 anos, um mito

Alberto Ascari saboreava as graças dos sete anos recém-completados quando seu pai, Antonio, piloto da Alfa Romeo, morreu num acidente enquanto liderava o GP da França.

Antonio tinha 36 anos e era uma estrela daquela era pré-Mundial de F-1. Foi parceiro de Enzo Ferrari, venceu provas em Cremona e Monza e escreveu seu nome na história ao vencer a primeira corrida nas estradas ligando Spa e Francorchamps.

A batida foi fatal. Garoava, a pista estava escorregadia. A Alfa virou ferro torcido ao encontrar uma imprudente cerca de madeira no circuito de Montlhéry, nos arredores de Paris.

Um trauma. Um choque. Mas nenhuma malquerença pela paixão do pai. Pelo contrário.

Aos 22, Alberto procurou o comendador e pediu um carro emprestado. Começou ali sua carreira, paralisada durante a Segunda Guerra Mundial, mas retomada com força total ao fim do conflito.

Em 21 de maio de 1950, alinhou em Mônaco para a segunda corrida de um campeonato mundial de F-1. Ao volante de uma Ferrari, largou em sétimo e terminou em segundo.

Eram outros tempos, a categoria ainda tentava se estabelecer, os pilotos disputavam vários campeonatos simultaneamente e se negavam a cruzar o Atlântico para correr em Indianápolis.

Os resultados começaram a aparecer em 1952. Alberto venceu cinco das sete provas do calendário e se tornou o primeiro campeão mundial pela escuderia de Maranello. Em 1953, veio o bi, com cinco vitórias em nove etapas.

Tornou-se um herói italiano, um dos primeiros grandes personagens da F-1.

É improvável que a F-1 renda homenagens a Alberto Ascari em Mônaco nesta sexta-feira.

Deveria. Porque neste 22 de maio sua última corrida completa 60 anos. E foi lá mesmo, naquele cenário, naquelas ruas, naquele principado.

Pilotando um Lancia, liderava a prova quando bateu no muro na região do porto, fato raro. Diz a lenda que o italiano se distraiu com as reações da multidão a uma explosão no motor de Moss, momentos antes. Como resultado, o nariz quebrado.

Quatro dias depois, 60 anos na próxima terça-feira, foi a Monza ver seu amigo Castellotti testar uma Ferrari que disputaria uma prova de endurance. Resolveu dar umas voltinhas, mesmo vestindo uma camiseta ordinária e pegando um capacete branco emprestado _o que contrariava sua antiga superstição de só pilotar usando o seu, azul claro.

Na terceira volta, escapou da pista em uma curva rápida, capotou, foi lançado para fora do carro. Morreu instantes depois.

Aquele pedaço de Monza, uma curva que depois ganhou um chicane, chama Ascari não por acaso.

Alberto tinha 36, como o Antonio de mesmo sobrenome e destino.


Endereço da página: