Folha de S. Paulo


Um causo alemão

Descobrir e contar causos saborosos são o grande objetivo e o grande prazer daqueles que abraçam o Jornalismo, assim, com J maiúsculo.

São histórias que não afetam a Bolsa nem as eleições, mas que merecem o mesmo cuidado na apuração e são tão importantes quanto. Porque dão graça à vida.

(E, particularmente, prefiro isso do que qualquer ação da Bolsa.)

Pois coube a um jornal alemão, o "Kolner Express", a notícia mais curiosa deste fim de ano no automobilismo. Pelo personagem envolvido. Por fazer a imaginação voar.

Um vice-campeão da F-1 virou motorista de carro funerário.

Por dez temporadas, Frentzen foi um piloto respeitado na categoria.

Formou-se na mesma escola de Schumacher, o time de Turismo da Mercedes, mas estreou três anos mais tarde: em 94, pela Sauber. E se é verdade que não chegou perto do desempenho do compatriota e rival –Schumacher tomou-lhe a namorada–, também é que a comparação é injusta. Ninguém o fez.

O cartel é bacana. Frentzen disputou 156 GPs, conseguiu três vitórias, duas poles e seis melhores voltas. Em 97, companheiro de Villeneuve na Williams, foi vice-campeão mundial. Passou ainda pela Jordan até encerrar a carreira na mesma Sauber em que começou, em 2003.

De lá para cá, correu no DTM, disputou 24 Horas de Le Mans, divertiu-se em outras categorias. Mas teve de dar um tempo para operar o joelho esquerdo, ainda dolorido por causa de uma pancada no GP do Canadá de 99, lembram?

De volta a Monchengladbach, sua cidade-natal, resolveu então ajudar nos negócios da família. Seu pai, Harald, morreu no começo do ano. E a irmã, Nadine Nicole, assumiu o comando da empresa. Precisava de uma forcinha.

Acontece que trata-se de uma funerária. E o ex-piloto ajuda com o aquilo que melhor sabe fazer. Assumiu o volante do rabecão.

"Cheguei a fazer isso algumas vezes quando ainda estava na F-1", contou ao "Kolner Express". "Ela assumiu a administração dos negócios, e eu ajudo conduzindo o carro negro."

Dá para imaginar... A família toda reunida naquele momento tão doloroso, e então chega o Frentzen de paletó e quepe escuros para levar o caixão ao cemitério.

Nathalie Riahi e Oliver Reuter são os repórteres que assinam a reportagem no diário alemão, reproduzida mundo afora. Golaço.

SOM & FÚRIA

Em nome do corte de gastos, a F-1 pode abrir mão das unidades híbridas de potência e retornar aos V8 ou V10. A atual fórmula é ótima para o meio-ambiente, tem todo o apelo de cuidado com o futuro do planeta, mas é péssima para os bolsos das equipes. Marussia e Caterham que o digam.

Os ouvidos dos fãs, que gostam de barulho, agradecem.

fseixasf1@gmail.com


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