Folha de S. Paulo


Viagem ao passado

Imagine se o Mundial de F-1 fizesse seu campeão amanhã, dia 16.

O que seria das próximas corridas? E dos próximos meses? Como a audiência global reagiria? Como disputar oito GPs em clima de amistoso, assistindo apenas a disputas intermediárias, insossas?

Aconteceu há 22 anos.

Em 16 de agosto de 1992, na Hungria, Mansell conquistou seu único título mundial. Tinha em mãos o FW14, um carro que fez história. Tão bom, tão superior à concorrência, que desde o primeiro GP daquela temporada não deixou dúvidas de que faria o campeão.

Antonio Scorza - 5.abr.1992/AFP
Nigel Mansel, da Williams, comemora a vitória no GP do Brasil de 1992
O inglês Nigel Mansell, da Williams, comemora a vitória no GP do Brasil de 1992

E entre Mansell e Patrese, era óbvio quem prevaleceria.

A vitória em Budapeste foi de Senna. Mas o inglês já tinha 8 em 11 corridas, e garantiu matematicamente o título mesmo com o segundo lugar. Foi um choque na época, o recorde de antecipação de uma conquista, com 68,7% das etapas disputadas.

Um choque até maior do que o de 2002, quando Schumacher fechou a disputa também na 11ª etapa, mas num campeonato de 17 corridas.

Novo recorde, antecedência até maior, com só 64,7% da temporada percorrida. Mas o alemão não tinha concorrentes à altura. Mansell, sim.

Foi num 21 de julho. Dá para imaginar o anticlímax, o ânimo de todos para o resto de um campeonato que só terminaria em 13 de outubro?

Temos, quase sempre, uma tendência ao saudosismo.

Que fique de lado, por ora. Que essas duas historinhas sejam lembradas. E que aceitemos os fatos: o campeonato deste ano está muito bom.

O primeiro motivo: ao mudar radicalmente o regulamento da categoria para este ano, a FIA alterou a relação de forças. Tornou o pelotão mais equilibrado.

O segundo: a Mercedes, única equipe que se destacou, até agora está se saindo muito bem na administração dos egos de seus pilotos.

Deu algumas escorregadas, é verdade. Mas a lista de bons serviços prestados ao espírito esportivo é significativamente maior.

Já passamos do 21 de julho e cruzaremos o 16 de agosto sem a loucura, ou a chatice, de a disputa já estar liquidada.

Longe disso. Hamilton e Rosberg travam uma batalha acirrada pelo campeonato, estão separados por apenas 11 pontos, e ainda há oito corridas pela frente —a última delas, Abu Dhabi, com a novidade da pontuação dobrada.

Como brinde, ainda há uma série de histórias paralelas que conferem atratividade ao campeonato: a afirmação de Ricciardo, os dramas de Massa, o crescimento de Bottas, os problemas de Vettel, a superação de Alonso...

E nada melhor do que voltar das férias na mais espetacular das pistas. Spa.

O presente, embora longe do ideal, é mais interessante do que muitas temporadas do passado.

fseixasf1@gmail.com


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