Folha de S. Paulo


O fim do mimimi

Um dos candidatos a craque da Copa, Suárez recebeu punição pesada pela mordida no italiano Chiellini, na terça-feira. Foram nove jogos, mais quatro meses de afastamento total do futebol.

Perde ele. Perde a seleção uruguaia. Perde a Copa do Mundo. Perdem todos. São, inclusive, argumentos pró-perdão.

Mas no outro prato da balança há o futebol, há o esporte. E não se pode passar uma mensagem de que é permitido ser desleal, de que um jogador pode cravar os dentes no ombro de outro. No fim, o argumento do espírito esportivo pesou mais.

É uma discussão longa e antiga. Tem muito do caso a caso, do histórico do infrator. Muitas vezes tem a ver com a ética ou a conveniência de quem julga. É tênue a linha entre punição e absolvição.

E é o assunto da semana na F-1.

A FIA estuda pegar mais leve nas punições aos pilotos.

A percepção da entidade é que o rigor nas penalizações é um dos motivos para o baixo número de ultrapassagens. Os pilotos se sentem inibidos de tentar uma manobra mais ousada, com receio de serem punidos caso aconteça algum toque.

A ideia da FIA é, a partir de agora, só levar a julgamento casos que chamem a atenção dos comissários ou que surjam de denúncias de uma equipe contra outra. Até o GP da Áustria, todo e qualquer totó era investigado.

Lauda apoiou a medida. "Não gosto quando estou vendo uma prova como a de Montreal, com Nico e Lewis duelando na primeira curva e logo surge um aviso na tela de que ambos estão sob investigação", disse o austríaco. "Precisamos voltar aos velhos tempos. Deixar com os pilotos. Deixá-los livres para correr, não interferir. O público nos abandona porque não parece mais que estamos disputando uma corrida."

Aplausos para a FIA, aplausos para o austríaco.

A F-1 sempre teve seus De Cesaris, seus Nakajimas, seus Maldonados, seus Grosjeans. E sempre soube lidar com eles.

É seleção natural. Pilotos assim sempre ficaram à margem das disputas por título, mas também sempre fizeram parte do espetáculo e da equação que constrói uma corrida.

Exageros de conduta devem ser punidos, claro. Mas já era mais do que tempo de saber distinguir toques de roda com roda, disputas normais de posição, de acidentes realmente graves, que levam risco à vida de alguém.

Para usar expressão consagrada nas redes sociais, já tinha passado da hora de a F-1 acabar com o mimimi.

Em tempo: no meu autorama, tinha um "carrinho trapalhão", incontrolável, a serviço do imponderável.

E era um dos grandes baratos da brincadeira.


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