Folha de S. Paulo


Alô, Emerson

Do outro lado da linha, um bicampeão da F-1.

Emerson Fittipaldi, 67, soa como garoto, radiante com o neto Pietro, 17, que no final de semana venceu a corrida de estreia na F-Renault inglesa.

"No sábado, ele largou em segundo, passou pra liderança na primeira curva e venceu. Daí ele comeu alguma coisa estragada, teve uma intoxicação alimentar, e mesmo assim foi quarto colocado nas duas provas do domingo", diz o avô-tutor coruja.

Com os resultados, Pietro é o terceiro no campeonato. Que é longo. Há 12 provas à frente.

Formado em categorias de base da Nascar, o neto de Emerson ainda busca se adaptar aos monopostos.

"Falta um pouco. Nos EUA, ele só engatava marchas nas relargadas, a técnica era para ovais curtos, só fazia curvas para um lado. O peso do carro é diferente, a dinâmica é diferente... Mas ele está bem", analisa o avô.

Que faz uma pausa para vibrar com outro garoto de sobrenome famoso: "Você viu que o Pedro Piquet também ganhou? É demais, isso... Espetacular!"

Sim. Em Tarumã, Pedro, 15, filho de Nelson, 61, ganhou as duas provas da rodada de abertura da F-3 sul-americana.

(Não é coincidência. É sintomático. Com as categorias de base do automobilismo nacional respirando por aparelhos, duas das maiores esperanças do país têm grifes históricas. Quem não as tem, invariavelmente fica pelo caminho.)

A conversa, claro, ruma para a F-1 e o GP espetacular do final de semana. "Acertaram no alvo", diz Emerson, sobre o regulamento de 2014. "É o recomeço de uma F-1 com muita emoção, muita disputa. Eu não assistia a um GP como aquele havia 20 anos."

O bicampeão desdenha das críticas ao som do motor. "Tudo na vida é compromisso. Se este foi o preço para que a F-1 avançasse numa tecnologia menos poluente e se tornasse mais competitiva, ótimo."

Para ele, que esteve observando tudo de perto na Malásia, é questão de (pouco) tempo para a Red Bull chegar ao nível da Mercedes. Do alto de sua percepção, classifica o RB10 de "muito estável" e acha que Vettel já estará andando lá na frente "em três ou quatro provas".

E a atitude de Massa em Sepang? "Ele fez certo. O Felipe precisa da Williams, mas a Williams também precisa do Felipe. É começo de campeonato... Vai deixar passar por quê?"

Por fim, fala sobre o sensacional duelo Hamilton x Rosberg no Bahrein. "Lembrou Prost versus Senna. Eles chegaram ao limite do respeito. Achei muito bom, nada errado. Mas a pressão vai aumentar GP a GP. Vamos ver."

Uma aula. Telefone quando quiser, Emerson. É sempre bom falar com um mito.


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