Folha de S. Paulo


O desconhecido Mick Betsch

A nota circulou por sites e blogs especializados nos últimos dias e sugere uma reflexão e um paralelo com o que ocorre por essas bandas.

Filho de Schumacher, Mick, 13, virou piloto de kart. Compete na categoria KFJ pela equipe Tony Kart-Vortex e já participou de alguns eventos importantes no esporte.

O bacana vem agora: para evitar assédio e holofotes, ele corre disfarçado. Usa o sobrenome da mãe.

Sim. Um aspirante à F-1 --como todo garoto que compete no kart-- que poderia usar o sobrenome do maior vencedor de todos os tempos deixa-o de lado.

Poderia ser o badaladíssimo Mick Schumacher. Preferiu assumir a identidade de Mick Betsch.

Tudo bem que, agora, o segredo tenha ido para o espaço. Aliás, é o tipo de estratégia que não duraria muito tempo --até pelo tamanho dos queixos envolvidos.

Mas o que vale é a intenção. Para Mick, o anonimato deve ter sido bom enquanto durou. Ele deve ter curtido as críticas e os elogios feitos com base apenas na sua pilotagem, e não no seu DNA.

Por aqui não é bem assim.

Quando aconteceu coisa parecida foi na época em que o automobilismo era atividade marginal. Filhos inventavam as maiores maluquices para tentar driblar a vigilância dos pais. O caso mais célebre foi o de um tal "Piket", filho de ministro, que acelerava forte por Brasília.

Mas vieram o sucesso do país nas pistas de F-1, a fama, o prestígio, as fortunas...

E seguiram-se os herdeiros.

Christian foi o primeiro. Cumpriu todas as etapas na base e disputou três anos na F-1 por equipes nanicas até resolver apostar no eldorado da Indy. Foi segundo colocado em Indianápolis, em 95, mas nunca chegou a brilhar.

Depois veio Nelsinho, que também atraiu olhares e curiosidades desde o kart. Na F-1, protagonizou o pior escândalo da história. Desde 2010, tenta reconstruir a carreira na Nascar, nos EUA.

E chegou a vez de um Senna. Bruno teve um início atípico, voltando a pilotar após um hiato traumático de dez anos. A força do sobrenome mítico atraiu patrocinadores, e em pouco tempo ele chegou à F-1. Rápido entrou, rápido saiu: sem equipe neste ano, vai correr o Mundial de Endurance pela Aston Martin.

O caminho escolhido por Mick não é garantia de sucesso. Mas parece mais consciente, menos deslumbrado, mais razão, menos emoção. E passa por uma questão cultural. O nosso, do sobrenome pelo sobrenome, já sabemos que não resolve.

TESTES

Em sete dias de testes até agora, sete pilotos lideraram. Quer algo mais inconclusivo?

Esta coluna vai esperar mais alguns treinos para analisar a pré-temporada.

fabio.seixas@grupofolha.com.br


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