Folha de S. Paulo


O olho de Maria

Se havia algo que funcionava muito bem no automobilismo, era a cadeia de produção de pilotos para a F-1.

Por décadas, cumpriu uma sequência lógica. Na base, o kart. No topo, a categoria dos sonhos. Entre um e outro, a seleção natural dos campeonatos regionais, nacionais, internacionais...

Quando desembarcavam na F-Ford ou na F-3 inglesas, os moleques começavam a ter os primeiros contatos com gente da F-1. Eram convidados para testes. Não raro, equipes faziam "vestibulares" entre jovens promissores.

No ano seguinte, alguns estariam batendo roda com seus ídolos. Prontos, formados. Já acumula- vam quilometragem com aqueles carros.

Por alguns motivos, isso não existe mais. E, por motivos que derivam desses, Maria de Villota perdeu o olho direito depois de se chocar contra um caminhão na terça-feira.
Tudo começou a degringolar quando a F-1, por conta de sua ambição sem fim, decidiu assumir a F-3000.

Foi no final dos anos 1990, com o surgimento das equipes juniores, processo que só burocratizou a categoria-escola e tornou-a tão asséptica quanto a categoria-mãe. A GP2 acentuou essa filosofia, criando um funil antes do tempo.

Outro erro foi o fim dos testes. A intenção era nobre --reduzir custos--, mas o resultado foi de- sastroso. Quando uma equipe precisa de um piloto, falta mão de obra.

Maria percorreu os estágios anteriores à F-1, mas, quando chegou lá, caiu no limbo. Nunca tinha pilotado o carro e não corria de nada havia mais de um ano.

O acidente pode ter sido por pane mecânica ou eletrônica. Mas, se tivesse alguma experiência num carro de F-1, Maria poderia ter tentando minimizar as consequências.

Foi com ela, mas poderia ter acontecido com ou- tros. Pilotos de testes na F-1 fazem de tudo, princi-palmente pirotecnias publicitárias. Só não testam. Não estão prontos, não estão formados.

Que o olho de Maria faça a FIA rever esses conceitos.

DECISÃO

O GP da Inglaterra, nona das 20 etapas da temporada, será uma espécie de hora da verdade. Se Vettel repetir nos treinos e no GP o ritmo que mostrou em Valência até a quebra do alternador, torna- -se favorito ao título. Do contrário, o cenário pintado será o do equilíbrio visto até aqui. E Alonso, claro, agradece. Este colunista coloca suas fichas na primeira opção.

INDECISÃO

Bautista escorregou na largada, acertou Lorenzo e equilibrou a luta pelo título da MotoGP. Bicampeão em 2007 e 2011, Stoner tem agora 140 pontos, igual ao campeão de 2010. Taí uma disputa que deve continuar acirrada até o final e na qual é imprudente empenhar qualquer ficha. No domingo, em Sachsenring, na Alemanha, acontece a oitava etapa do campeonato.


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