Folha de S. Paulo


Incerteza causada por erros de previsão afasta investimento

Alessandro Shinoda /Folhapress
Bolsa fechou em alta pelo 3º dia seguido e atingiu maior patamar em quase 5 anos
Bolsa de valores

No início de 2014, analistas esperavam que a economia brasileira teria crescimento médio de 2% nos 12 meses seguintes. Erraram feio. A alta do PIB (Produto Interno Bruto) foi de apenas 0,5%.

Em 2015, estava claro que o Brasil não ia bem. O ano começou com projeções de repetição da expansão modesta do ano anterior. Equívoco muito pior. O PIB contraiu 3,8%.

Em 2016, já se sabia que vivíamos crise com poucos precedentes. Na virada do ano, as expectativas eram de queda de 2,8% da atividade. Mas o tombo foi maior, de 3,6%.

O cenário desafiava os modelos de previsões que são calibrados para projetar o futuro tentando decifrar o rumo dos dados correntes com base em seu comportamento passado.

O problema é que tudo no tempo presente estava fora da ordem. Com a recessão ganhando ares de depressão e a brutal incerteza política, a economia se tornou disfuncional.

Em meados de 2016, por exemplo, os modelos captaram que todos se tornavam mais otimistas em relação ao futuro, provavelmente um efeito da troca de governo.

As projeções de desempenho da economia começaram a "despiorar". Tropeçaram, no entanto, no fato de que as expectativas eram puro desejo, sem lastro na percepção da chegada de dias melhores.

Escaldados, economistas iniciaram 2017 cautelosos, projetando expansão de 0,5% do PIB neste ano. Não contavam com Joesley Batista e suas denúncias que quase derrubaram o presidente Michel Temer. Novo desastre, a maioria concluiu, refazendo cálculos. Em julho, a média das projeções tinha caído para 0,3%.

Mas os números surpreenderam novamente, embora na direção contrária recente.

O consumo das famílias, defunto há mais de dois anos, ressuscitou no segundo trimestre, impulsionado pela volta do emprego informal, a queda da inflação, o tímido retorno do crédito e a liberação do dinheiro de contas inativas do FGTS.

Na esteira disso, o setor de serviços colocou a cabeça para fora da água. Isso criou, entre analistas, a leitura de que o crescimento está mais disseminado, já que, no primeiro trimestre, só a agricultura havia dado o ar da graça.

Agora, falam em crescimento de até 1% em 2017. Mas para que esse sopro vire crescimento sustentado os empresários precisam acreditar no início da recuperação e retomar planos de comprar máquinas e expandir fábricas.

Com base nos manuais de economia, isso já deveria estar acontecendo em consequência da queda dos juros e da volta incipiente do consumo. Mas o investimento caiu novamente no segundo trimestre, recuando para seu nível de oito anos atrás.

Teimosia de empresários ou reflexo da brutal incerteza criada após anos de descoberta de que o poço era, afinal, mais fundo do que se achava?


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