Folha de S. Paulo


Volkswagen passou a conta para o coronel

Depois de anos de idas e vindas, a Volkswagen alemã reconheceu a sua colaboração com o aparelho repressivo da ditadura brasileira. Até agora ela é a única grande empresa a tomar essa posição. A poderosa Federação das Indústrias de São Paulo até hoje não admitiu sua parceria com o DOI-Codi, documentada em pelo menos uma carta do embaixador americano ao Departamento de Estado.

Infelizmente, a Volks atribuiu a malfeitoria ao chefe da segurança da empresa, o coronel da reserva do Exército Ademar Rudge.

Disse o seguinte: "Ele agia por iniciativa própria, mas com o conhecimento tácito da diretoria".

Numa empresa alemã, disciplinada e hierarquizada, uma coisa dessas jamais aconteceria, a menos que "conhecimento tácito" queira significar muito mais. A Volks, bem como outras empresas, fornecia listas de trabalhadores suspeitos à polícia.

O mea culpa, ainda que parcial, resultou das investigações da jornalista Stephanie Dodt. Ela colheu depoimentos para um documentário apresentado pela TV pública alemã. Nele, um ex-diretor de Recursos Humanos da Volks disse que "nós nunca tivemos ditadura no Brasil, quem se queixa de ditadura é quem sofreu as consequências. Eram os esquerdistas que queriam bagunçar o país".

Tudo bem, mas quando chegou a hora de achar um responsável pela colaboração com a polícia, sobrou para o coronel da reserva do Exército. Fica o exemplo para os militares que hoje ouvem vivandeiras da política e do empresariado sugerindo a conveniência de uma nova intervenção militar.

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