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O marechal Castello criticou a fúria carcerária

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ORG XMIT: 320501_0.tif 1965Alceu de Amoroso Lima, ensaísta, crítico literário, pensador católico dos mais influentes de sua geração e membro das Academias Brasileiras de Letras e Filosofia. Pseudônimo: Tristão de Athayde. (Rio de Janeiro (RJ), 00.00.1965, foto: Folhapress)
O ensaísta, crítico literário e pensador católico Alceu Amoroso Lima

Em maio de 1965, um coronel que chefiava inquéritos militares destinados a investigar a infiltração das ideias esquerdistas em órgãos públicos prendeu o editor Ênio Silveira, cuja casa, a Civilização Brasileira, revolucionara o mercado editorial brasileiro.

Ênio era um homem elegante e destemido. Era também comunista e o presidente Castello Branco sabia disso. Castello, por sua vez, foi um general francês metido na anarquia de uma ditadura militar latino-americana.

Nessa fase envergonhada do regime, o escritor católico Alceu Amoroso Lima dizia que estava em curso um "terrorismo cultural". "Doutor Alceu" tornou-se um capeta na visão dos encarregados de inquéritos.

Depois da prisão do editor, o marechal Castello mandou um bilhete manuscrito ao general Ernesto Geisel, chefe de sua Casa Militar. Infelizmente esse papel ficou no silêncio dos arquivos por muitos anos. Ele dizia o seguinte: "Por que a prisão do Ênio? Só para depor? A repercussão é contrária a nós, em grande escala. O resultado está sendo absolutamente negativo. (...) Há como que uma preocupação de mostrar 'que se pode prender'. Isso nos rebaixa. Penso que devemos tomar medidas decisivas. Comprometo-me a amparar os IPMs. Mas não devo estar apoiando uma espécie de chicana policial e judicial. (...) Os companheiros do governo se sentem constrangidos. (...). Os resultados são os piores possíveis contra nós. É mesmo um terror cultural."

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