Folha de S. Paulo


Andar de cima brasileiro repete forma de intimidação de regimes comunistas

A repórter Sonia Racy contou que dezenas de pais de alunos da escola britânica St. Paul's, uma das melhores e mais caras de São Paulo, se organizaram para demitir uma funcionária encarregada da área de tecnologia.

O motivo da mobilização vem a ser o fato de a senhora ser casada com um pecuarista, acusado pelo Ministério Público de chefiar um grande esquema de grilagem, trabalho escravo, horrores e desmatamento de 300 km² na Amazônia. Em 2016, ele foi multado em R$ 332 milhões.

Na opinião de uma das mães de alunos, "como um colégio tão cheio de regras permite uma funcionária casada com um desmatador?"

O que a mulher de um sujeito tem a ver com o que ele faz, não se sabe, mas o caso não termina aí. Ele começa no lance seguinte: a patrulha pediu também que fossem retirados do colégio os dois filhos gêmeos do casal.

Briga de pais em colégio frequentemente tem muitos motivos, mas o que impressiona nessa turma é que o andar de cima, que põe suas crianças na St. Paul's, argumente com o que faz o pai para justificar a punição de crianças. Essa era a forma de intimidação mais cruel a que recorriam os regimes comunistas para castigar os "inimigos do povo".

No ano do centenário da Revolução Russa, os patrulheiros poderiam perder algum tempo aprendendo o que acontecia na União Soviética com essas crianças malditas. Está na livrarias "A Estrada", do escritor Vasily Grossman, que num breve conto ("Mama") narra a vida pelo olhos uma um criança órfã, filha de um dos grandes assassinos de Stálin que, como era rotina, acabou fuzilado.

Para quem quiser uma memória real, está na rede "The Girl from the Metropol Hotel" ("A Menina do Hotel Metropol — Crescendo na Rússia Comunista"). Nele, Ludmila Petrushevskaya conta sua infância, do conforto onde vivia a elite bolchevique, ao inferno da vida dos "inimigos do povo".

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