Folha de S. Paulo


Identidade do chefe da espionagem americana é segredo de Polichinelo

Alan Marques/Folhapress
Gabinete de Segurança Institucional revelou encontro Sergio Etchegoyen com agente da CIA
Gabinete de Segurança Institucional revelou encontro Sergio Etchegoyen com agente da CIA

Coisa jamais vista. Sem o menor motivo, o Gabinete de Segurança Institucional do presidente Temer revelou em sua agenda pública que o general Sérgio Etchegoyen recebeu a visita de Duayne Norman, "chefe do posto da Central Intelligence Agency em Brasília".

No melhor estilo tabajara, veio a explicação de que fizeram isso em nome do que seria uma "transparência ativa", de acordo com a Lei de Acesso à Informação, que determina o registro dos nomes e cargos de quem é recebido em audiências por hierarcas.

Antes fosse. O doutor Duayne Norman, bem como todos os seus antecessores e sucessores, não se apresenta como chefe do posto da CIA, mas como funcionário do setor político da embaixada.

Em relação ao governo americano houve uma desagradável trapalhada. Em relação aos contribuintes brasileiros, mais uma tentativa de explicar o inexplicável recorrendo-se à mistificação. Afinal, Temer nunca entrou no jatinho da JBS e, pela Lei de Acesso à Informação, Joesley Batista nunca foi ao Jaburu com seu gravador.

Explicou-se também que Duayne Norman foi ao Planalto para despedir-se, pois deixará o posto. Outra justificativa tabajara, pois ele continuará na ativa e foi exposto. Quando o doutor estava na Geórgia e se exibia escalando montanhas, era qualificado como funcionário do setor político.

Excluídas as mistificações, vale a pena registrar que no meio diplomático de Brasília, a identidade do homem da CIA é um segredo de polichinelo. Só a paranoia joga sobre qualquer funcionário da embaixada e, às vezes, sobre qualquer cidadão americano a suspeita de que ele seja da CIA.

A lenda assegura que o general Vernon Walters, adido militar no Rio em 1964, era da agência. Amigo de dezenas de generais, inclusive o marechal Castello Branco, tinha que ser da CIA.

O chefe da base da "Companhia" chamava-se Vernet Gresham, listado pela embaixada como "primeiro secretário". Depois de Gresham o cargo foi ocupado por Stephen Creane e Wilfred (Bill) Koplowitz, sucedido por Joseph Kyionaga. O chefe da estação de Brasília que foi mais longe na carreira foi George Kalaris, que nos anos 70 saneou o seu setor de contraespionagem, envenenado por um chefe paranoico.

Como todo americano deve ser da CIA, para o Centro de Informações do Exercito, um missionário americano que vivia entre os mendigos do Recife seria um agente infiltrado e, preso, foi maltratado.

Na outra ponta, em 1970 a VAR-Palmares redigiu um manifesto informando que sequestrara Curtis Cutter, cônsul americano em Porto Alegre, e ele confessara "suas ligações com a CIA". Cutler não fora sequestrado nem confessara coisa alguma, pois escapara da cena passando com seu carro por cima do pé de "Jorge", o atual governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel. O manifesto com a notícia da confissão foi achado no "aparelho" para onde ele deveria ser levado.

A exposição de Duayne Norman foi uma trapalhada e a explicação dada aos brasileiros mais um momento ridículo do bunker de Temer. É sempre bom lembrar que o governo americano xereta as telecomunicações de Pindorama de forma prepotente e não consegue preservar o sigilo de seus documentos. Eles acabam no site WikiLeaks, levando autoridades de outros países a situações constrangedoras e até mesmo ridículas.


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