Folha de S. Paulo


Chanceler Aloysio Nunes tenta usar OEA contra Venezuela e é derrotado

Pedro Ladeira - 10.mar.2017/Folhapress
BRASILIA, DF, BRASIL, 10-03-2017, 16h00: O ministro das Relações Exteriores Aloysio Nunes Ferreira durante entrevista em seu gabinete. (Foto: Pedro Ladeira/Folhapress, PODER) ***EXCLUSIVO***
O ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, durante entrevista em seu gabinete

Pena que Joesley Batista não tenha discutido questões de política externa com Michel Temer. Seria uma oportunidade para se conhecer a raiz da desastrosa diplomacia de seu governo. O centro desse desastre está na encrenca que seus dois chanceleres meteram-se com o governo bolivariano da Venezuela.

Depois que os Estados Unidos cansaram-se de brigar com o coronel Hugo Chávez, um secretário de Estado assistente explicou por que Washington decidiu se afastar da briga com os bolivarianos: "Se você entra num chiqueiro para brigar com um porco, é certo que você vai sair perdendo". Os Estados Unidos querem que os bolivarianos se danem.

Durante o mandarinato dos comissários, o PT e as empreiteiras acasalaram-se com Hugo Chávez. Temer decidiu quebrar essa escrita. Poderia ter feito isso em silêncio, como os americanos, mas seus chanceleres resolveram pular no chiqueiro. Na semana passada o chanceler Aloysio Nunes Ferreira participou de uma ridícula reunião do Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos durante a qual tentou-se aprovar uma declaração condenatória da proposta de constituinte avacalhada do presidente Nicolás Maduro.

A relevância das decisões da Organização dos Estados Americanos é menor que a dos anéis de Saturno. Se isso fosse pouco, a Venezuela já anunciou que abandonará o organismo. Temer e o chanceler Nunes Ferreira viram alguma utilidade numa votação que condenasse a constituinte de Maduro e resolveram investir numa irrelevância. O conselho da OEA reuniu-se e os sábios descobriram que não tinham os votos necessários para aprovar a condenação. Foram batidos pelos países da Comunidade Caribenha e da Aliança Bolivariana. Resolveram esperar pela assembleia da Organização.

O chanceler Nunes Ferreira fez um emocionado discurso, denunciou a violência da ditadura bolivariana e disse que "lembro dos companheiros que morreram nos cárceres, que morreram no exílio sem poder voltar à sua terra". Bonitas palavras para quem foi o guerrilheiro "Mateus" da ALN, obrigado a viver no exílio, na França. Para um chanceler, coisa de amador.

A OEA é uma irrelevância, brigar com o bolivarianos no seu Conselho Permanente é uma inutilidade e jogar o governo brasileiro num confronto de batucada com a Venezuela é uma irresponsabilidade.

Os dois países têm 2.200 quilômetros de fronteiras, podem divergir, mas não devem perder a calma.

Um dia os bolivarianos vão embora e ficará nos vizinhos o gosto amargo da desabrida interferência em seus assuntos.

Em 1972, quando o jovem Nunes Ferreira era um exilado em Paris, o chanceler brasileiro Mario Gibson Barbosa aborreceu-se com a OEA porque não conseguiu os votos necessários para aprovar um plano conjunto de ação contra o terrorismo. Ele queria impedir que pessoas acusadas de serem terroristas recebessem asilo político.

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