Folha de S. Paulo


A bruxaria do livreiro Briquet de Lemos e o pintor Nicola de Garo

Este século mal tinha começado quando um cliente da Livraria de Arte, de Brasília, perguntou a Antonio Agenor Briquet de Lemos se ele tinha alguma obra relacionada com o pintor italiano Nicola de Garo, que passara pelo Brasil nos anos 20. O episódio poderia ter sido concebido por Jorge Luis Borges. Briquet é um veterano livreiro, respeitado bibliotecário, severo guardião do idioma e curioso incorrigível, mas nunca havia ouvido falar em Nicola de Garo. Entre 1923 e 1926, o pintor passou pelo Recife, pela Amazônia, por São Paulo e pelo Rio. Expôs suas composições geométricas de cores fortes, conheceu Mario de Andrade, Gilberto Freyre e José Lins do Rego, tornou-se amigo de Ronald de Carvalho e sumiu.

Briquet mostrou o valor da internet como instrumento de pesquisa. Juntou cacos de conhecimentos esparsos que estavam no Brasil, na Europa e nos Estados Unidos e compôs a charada. Nicola de Garo chamava-se Nicolai Abracheff e era búlgaro. (Quem daria valor a um búlgaro modernista?)

Ele saiu do Brasil e montou uma escola de arte em Nova York, onde morreu em 1978.

Essa delícia de pesquisa virou um livro "Nicola de Garo no Brasil". Tem 114 páginas e foi publicado pela Briquet de Lemos Editora e pela Casa da Memória Brasileira. Infelizmente, a tiragem é mínima. Resta torcer para que o bruxo coloque a obra na internet.

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