Folha de S. Paulo


O livro da Império Serrano, a escola sem dono

Está nas livrarias "Serra, Serrinha, Serrano: o Império do Samba", de Rachel e Suetônio Valença. É uma versão ampliada da primeira edição, de 1981, que se tornou uma raridade. Como escreveu a coautora, trata-se de "um livro-enredo, livro-exaltação". A Império nunca teve dono, nasceu entre os estivadores, em casas onde se dançava o jongo. Os personagens desse Rio de Janeiro são tratados como alguns autores tratam a nobreza europeia. "Hugo Mocorongo" nasceu na rua Felipe Camarão, filho de Orminda e Lucas Pinto Sobrinho. Marta Ferreira da Silva, a "Tia Marta do Império, mãe de santo conceituada e famosa baiana, morreu em 1963 e está sepultada no cemitério do Irajá. "Serra, Serrinha, Serrano" trata a comunidade que gerou e alimenta a tradição da escola com o respeito que se deve dar ao nobres. São marqueses Mano Décio da Viola, que em 1949 compôs a obra-prima "Tiradentes", aquele que foi traído e não traiu jamais a inconfidência de Minas Gerais, ou "Beto Sem Braço", um Laudemir que brigava como ninguém e foi um dos compositores de "Bum bum paticumbum prugurundum".

Poucas vezes a história de uma comunidade e de uma iniciativa cultural foi tão bem contada, com rigoroso respeito, sem frescura ou folclore, o que chega a torná-lo pesado. Só quem lê a orelha descobre que Rachel Valença é filóloga, trabalhou por 33 anos na Casa de Rui Barbosa e dirigiu seu centro de pesquisas por 12. A narrativa simples de "Serra, Serrinha, Serrano" poderia vir de moradores da esquina das ruas Mano Décio da Viola com Mestre Darcy do Jongo.


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